Folha de S. Paulo


Barbárie não é mais aceita, diz promotor após condenação de PMs

Após a condenação de dez policiais militares pela morte de oito presos no Carandiru, a acusação disse na noite desta quarta-feira (19) que a barbárie não é mais aceita e considerou a pena de 968 anos "satisfatória".

"O discurso da barbárie não é aceito pela sociedade. Não foi aceito em nenhum dos júris. E a defesa usou esse tipo de argumentação de forma mais incisiva do que nos [júris] anteriores" afirmou o promotor Márcio Friggi.

Cada policial teve pena estipulada em 96 anos, com exceção de um, que foi condenado a 104 anos de prisão por maus antecedentes, segundo o juiz.

Os jurados consideraram que os policiais, que compunham a tropa do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) na época, foram responsáveis por oito das 111 mortes ocorridas na antiga Casa de Detenção. Na decisão, os PMs foram absolvidos da acusação de tentativa de homicídio de três detentos.

Durante os debates que ocorreram ontem e hoje, o advogado dos policiais chegou a dizer aos jurados que preferia "um bandido morto a um policial ferido".

Vendramini, que foi policial militar da Rota nos anos 1980, exibiu ontem reportagens sobre crimes para concluir que "é de criminosos dessa laia que o Carandiru estava cheio".

O julgamento das 111 mortes do massacre do Carandiru foi dividido em etapas, devido ao grande número de réus e de vítimas. A divisão foi feita conforme os andares do antigo pavilhão 9.

Em 2013, foram condenados 48 policiais da Rota pelas mortes no primeiro e no segundo andares. Eles recorrem em liberdade.

ANULAÇÃO

O advogado disse que vai pedir a anulação do julgamento alegando cerceamento da defesa. De acordo com Vendramini, duas testemunhas foram dispensadas pelo juiz sem que ele fosse consultado.

"Eu não pude demonstrar minha defesa toda no plenário do júri. Quem conhece de direito sabe que ele [juiz] ultrapassou os limites dele como juiz". A acusação nega que houve parcialidade no julgamento.

"O julgamento foi conduzido com total imparcialidade, tanto é que a defesa conseguiu a absolvição da [acusação de] tentativa de três homicídios", afirmou o promotor Eduardo Olavo Canto Neto.


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