Folha de S. Paulo


Júri do Carandiru chega ao terceiro dia; sentença deve sair hoje

O julgamento dos dez policiais militares acusados pelas mortes de presos no quarto andar do antigo pavilhão 9 do Carandiru, durante o massacre ocorrido em 1992, está previsto para ser retomado às 9h desta quarta-feira (19) no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Neste terceiro dia de júri haverá a continuação do debate entre a acusação e a defesa, que começou ontem. Primeiro, o Ministério Público terá duas horas para a réplica. Depois, o advogado de defesa terá o mesmo tempo para a tréplica.

Em seguida, os jurados deverão se reunir para responder às perguntas feitas pelo juiz, Rodrigo Tellini. A sentença deverá ser conhecida ainda hoje.

Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento do massacre está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo pavilhão 9. No ano passado, 48 PMs foram condenados pelas mortes ocorridas no primeiro e no segundo andares. Eles recorrem em liberdade.

Nesta etapa, estão sendo julgados dez policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) acusados de matar dez presos no quarto andar do prédio após a entrada da PM para conter uma rebelião. Os réus são acusados ainda de três tentativas de homicídio -três presos baleados sobreviveram.

Ontem, durante sua apresentação, o Ministério Público argumentou que a PM cometeu excessos dentro da antiga Casa de Detenção, caracterizando uma chacina. Segundo o promotor Eduardo Olavo Canto Neto, a perícia comprovou que os presos não atiraram contra os policiais, como estes alegam.

O promotor usou também depoimentos de testemunhas que afirmaram não ter ouvido tiros antes da entrada da PM no prédio, contrariando a defesa.

Já o advogado de defesa dos policiais, Celso Vendramini, afirmou que os réus alegam, desde a época do episódio, que não atuaram no quarto andar do prédio, como diz a acusação, mas somente no terceiro andar.

Vendramini exibiu aos jurados um vídeo de 2013 em que presos do complexo de Pedrinhas, no Maranhão, comemoram a decapitação de outros detentos. O objetivo do vídeo, segundo o defensor, era mostrar "a realidade do sistema prisional". Ao comparar Pedrinhas ao Carandiru, o defensor tentou convencer os jurados de que a intervenção policial foi necessária porque os mortos eram perigosos.


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