Folha de S. Paulo


Mulher arrastada por carro da PM foi morta por tiro, aponta laudo

Um tiro, que perfurou o coração e o pulmão, foi a causa da morte da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, 38, e não o fato de ter sido arrastada por cerca de 250 metros, pendurada no porta-malas de um carro da PM, segundo laudo preliminar divulgado nesta terça-feira (18) pela Polícia Civil do Rio.

A Polícia Civil não informou se o tiro foi disparado de curta ou longa distância, nem a trajetória da bala ao entrar no corpo, o que poderia indicar a posição de Cláudia quando foi atingida. Ela foi baleada domingo durante troca de tiros entre bandidos e PMs, que realizavam operação no Morro da Congonha, em Madureira (zona norte).

De acordo com o laudo, a morte foi causada por "laceração cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax por ação perfurocortante". O IML vai realizar ainda perícia complementares.

Amiga de Cláudia, a dona de casa Viviane da Silva, 38, disse que a auxiliar de serviços gerais estava sentada quando um dos policiais atirou nela. Nesse caso, a bala teria feito um trajeto de cima para baixo.

Perguntada sobre a trajetória do tiro, a assessoria da Polícia Civil informou que "o laudo é peça do inquérito e detalhes dele não serão divulgados"

Os três policiais que colocaram Cláudia no porta-malas para levá-la ao hospital, os subtenentes Rodney Miguel Archanjo e Adir Serrano Machado e e o 3º sargento Alex Sandro da Silva Alves, foram indiciados sob acusação de infringir o artigo 324 do Código Penal Militar –deixar de observar lei, regulamento ou instrução no exercício da função.

Em nota divulgada na segunda-feira, a PM informara que nos cursos de formação os policiais aprendem que "o procedimento adequado é o socorro da vítima no banco traseiro da viatura".

Mas os três poderão ser indiciados também sob suspeita de homicídio no inquérito que tramita na Polícia Civil. Os três policiais militares acusados de arrastar a vítima pendurada no porta-malas de um carro da polícia foram convocados a prestar depoimento nesta quarta (19) ao delegado Carlos Henrique Machado, titular da 29ª DP (Madureira), zona norte do Rio.

De acordo com a Polícia Militar, o subtenente Rodney Archanjo está há 29 anos na corporação; o subtenente Adir Machado tem 25 anos na PM; e o terceiro sargento Alex Alvex é policial há 15 anos.

De acordo com a Polícia Civil, como a vítima foi removida, não foi feita perícia no local onde ela foi baleada. Por isso, investigadores pedem que aqueles que testemunharam o momento em que Cláudia foi atingida compareçam à delegacia para depor.

Conforme informações da 29ª DP, o marido de Cláudia, o vigilante Alexandre Fernandes, e os quatro filhos foram convocados a depor ontem (17), mas ainda não compareceram.

Cláudia saiu de casa, na manhã de domingo, para comprar pão. No caminho até a padaria, ela foi surpreendida por uma troca de tiros entre policiais e traficantes da comunidade onde morava, o morro da Congonha, em Madureira.

Segundo o comandante do 9º BPM, tenente-coronel Wagner Moretzsohn, 12 policiais militares realizaram uma operação na região. O objetivo da ação era "checar denúncias de que criminosos fugitivos da Vila Kennedy haviam entrado naquela comunidade".

Por nota, a corporação lamenta a morte de Cláudia Ferreira e se solidariza com sua família. Moretzohn reforça que os policiais envolvidos no "socorro" à moradora também vão responder por crime militar.

A Polícia Civil informa que um homem foi morto e outro preso na operação da Polícia Militar domingo. O IML ainda examina as digitais do suspeito que morreu. Já Ronald Felipe dos Santos, 19, foi levado para a Casa de Detenção Patricia Acioli, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.

De acordo com a investigação, ele não prestou depoimento. Com eles, foram apreendidos quatro pistolas carregadas com munição, 107 sacolés de maconha, 119 pedras de crack e 223 sacolés de cocaína. A polícia diz que ainda apura outras passagens de Ronald Felipe dos Santos pela polícia.

Uma lei estadual assinada em 7 de dezembro de 2009 determina a implantação de câmeras de vídeo e áudio em viaturas. Apesar disso, menos da metade das unidades que atendem o Rio e à Região Metropolitana têm o equipamento.

A assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Segurança informa que, até o fim de 2013, cerca de 950 viaturas da PM tiveram as câmeras instaladas e que as outras 1050 viaturas vão receber o equipamento até o segundo semestre deste ano.

O tenente-coronel Wagner Moretzsohn diz que a viatura que "socorreu" Cláudia Ferreira não dispõe do equipamento.


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