Folha de S. Paulo


Advogado diz que pedirá anulação de júri do massacre do Carandiru

O advogado dos policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) acusados de matar 10 detentos no Massacre do Carandiru, Celso Vendramini, disse nesta segunda-feira que pedirá amanhã o cancelamento do júri que começou hoje.

Segundo o advogado, os promotores entregaram aos jurados, no final da sessão de hoje, dois livros que não constavam nos autos do processo. O julgamento acontece no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, e foi encerrado por volta das 21h.

Os livros entregues aos jurados são "Pavilhão 9" e "A história de um massacre". Vendramini diz que as obras faziam parte do processo do julgamento do coronel Ubiratan Guimarães (1943-2006), condenado a 632 anos por comandar da operação policial que deixou 111 mortos na Casa de Detenção.

"Você não pode exibir documentos no plenário que não estejam no processo. Esses livros não estão no processo que está sendo julgado hoje. Eles estão no processo do coronel Ubiratan. Foi uma desonestidade por parte do Ministério público", disse o advogado.

O Ministério Público, porém, argumenta que os livros estavam, sim, nos autos do processo.

"São livros juntados aos autos, um deles, inclusive, é um relatório de uma comissão formada por determinação do Ministério da Justiça. Não é um romance, ele conta tudo que aconteceu no dia 2 de outubro de 92", disse Eduardo Olavo Canto Neto, promotor do caso.

Vendramini também era responsável pela defesa de 15 policiais militares acusados pela morte de oito detentos na terceira etapa do julgamento, mas abandonou o júri na ocasião alegando que o juiz estava sendo parcial.

Com isso, os trabalhos que tinham ocorrido na ocasião foram cancelados e uma nova data para o julgamento daqueles policiais foi remarcado para 31 de março. O juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo aplicou uma multa de R$ 50.680 ao defensor por conta do episódio.

JULGAMENTO

O julgamento do massacre do Carandiru será retomado às 10h30 de amanhã (18) com os debates entre a Promotoria e a defesa dos réus. Nesse quarto bloco do júri, estão sendo julgados dez PMs acusados pela morte de dez presos e pela tentativa de homicídios de outros três no quarto andar do pavilhão 9.

O ex-comandante do Gate e um dos réus no processo, Wanderley Mascarenhas de Souza, afirmou que atuou de forma profissional quando recebeu ordens para entrar na Casa de Detenção, em outubro de 1992. "Tenho a convicção que agi com profissionalismo", afirmou.

Conforme orientado pela defesa, ele e outros réus ouvidos se recusaram a responder as questões feitas pelo Ministério Público e pela defesa. Afirmaram que responderiam apenas as perguntas dos jurados e do juiz Rodrigo Tellini.

Tanto Mascarenhas quanto os outros policiais ouvidos no plenário afirmam que não atuaram no quarto andar, conforme a acusação do Ministério Público. Eles dizem que atuaram no terceiro andar, onde a Promotoria afirma que policiais do COE (Comando de Operações Especiais) agiram.

O então comandante da tropa do Gate afirmou no plenário que foi chamado pelo coronel Ubiratan Guimarães para levar sua tropa até a Casa de Detenção, pois havia a suspeita de que as barricadas construídas pelos detentos poderiam conter artefatos explosivos.

Segundo o oficial, a ação de sua tropa limitou-se a fazer a liberação dos bloqueios para que tropas de choques pudessem atuar nos andares superiores.

Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento do massacre está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Em 2013, foram condenados 48 PMs por mortes no primeiro e no segundo andares. Eles recorrem em liberdade.


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