Folha de S. Paulo


Ex-comandante do Gate diz que agiu com 'profissionalismo' no Carandiru

O ex-comandante do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM Wanderley Mascarenhas de Souza, que atuou no massacre do Carandiru, afirmou que atuou de forma profissional quando recebeu ordens para entrar na Casa de Detenção, em outubro de 1992.

"Tenho a convicção que agi com profissionalismo", afirmou Mascarenhas, que é um dos réus dessa etapa de julgamento do massacre. O júri foi iniciado nesta segunda-feira no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Conforme orientado pela defesa, Mascarenhas e os outros quatro réus ouvido entra a tarde e o início da noite desta segunda-feira se recusaram a responder as questões feitas pelo Ministério Público e pela defesa. Eles afirmaram que responderiam apenas as perguntas dos jurados e do juiz Rodrigo Tellini.

Tanto Mascarenhas quanto policiais ouvidos no plenário afirmam que não atuaram no quarto andar, conforme a acusação do Ministério Público. Eles dizem que atuaram no terceiro andar, onde a Promotoria afirma que policiais do COE (Comando de Operações Especiais) agiram.

O então comandante da tropa do Gate afirmou no plenário que foi chamado pelo coronel Ubiratan Guimarães para levar sua tropa até a Casa de Detenção, pois havia a suspeita de que as barricadas construídas pelos detentos poderiam conter artefatos explosivos.

Segundo o oficial, a ação de sua tropa limitou-se a fazer a liberação dos bloqueios para que tropas de choques pudessem atuar nos andares superiores.

INTERROGATÓRIO

Ainda que os réus tenha se recusado a responder as perguntas da acusação, os promotores Márcio Friggi e Eduardo Olavo Canto Neto fizeram suas perguntas no plenário.

Quando a acusação questionou Mascarenhas sobre um depoimento dado a CPI, em 1992, em que ele afirmou ter atuado no último andar do pavilhão 9 (quarto andar), o advogado de defesa, Celso Vendramini, se dirigiu ao réu e começou a conversar com ele.

Friggi então interveio. "Isso aqui não é o programa do Ratinho". O advogado então voltou ao seu lugar e se sentou.

Venramini ainda pediu que as perguntas fossem feitas ao escrivão, uma vez que os réus já havia dito que não se manifestariam às questões do Ministério Público.

Durante o interrogatório da acusação, os promotores insistem em apontar depoimentos anteriores dos réus que afirmam que atuaram no último andar.

Outros cinco réus ainda deverão ser ouvidos ainda hoje.

Nesse quarto bloco do júri, estão sendo julgados dez policiais do Gate pela morte de dez detentos e a tentativa de homicídio de outros três.

Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento do massacre está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Em 2013, foram condenados 48 PMs por mortes no primeiro e no segundo andares. Eles recorrem em liberdade.

DEPOIMENTOS

Antes dos interrogatórios dos réus, foi ouvido no júri o desembargador Fernando Torres Garcia, que era juiz-auxiliar da corregedoria de presídios e presenciou, de fora da Casa de Detenção, a entrada da polícia no Carandiru. "Houve inegável excesso [da PM]. Isso me parece nítido", disse hoje.

Também foi ouvido hoje o perito criminal Osvaldo Negrini Neto, que disse que havia vestígios de disparos em rajadas nas paredes do quarto andar apontando que foi usada metralhadora contra os detentos. Ao todos, seis dos dez detentos mortos tinham ferimentos à bala, de acordo com a acusação.

Outra pessoa ouvida mais cedo é o investigador Maldiney Antonio de Jesus, que na época era agente penitenciário do pavilhão 9. Ele afirmou que, no dia do massacre, não entrou nos pavimentos. Mas disse que nos dois anos que atuou no local, nunca apreendeu arma de fogo com os detentos.


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