No dia em que começou um racionamento de água para 850 mil pessoas de Guarulhos (Grande São Paulo), moradores de um bairro da cidade relataram enfrentar um corte semelhante, mas "extraoficial", há cinco anos.
Até ontem, no bairro do Bom Clima, região de classe média baixa próxima à Prefeitura de Guarulhos, o abastecimento era interrompido por 24 horas após dois dias com água.
Agora, o bairro passou para o novo esquema de corte adotado na cidade. Receberá água dia sim, dia não.
A Folha constatou ontem que as torneiras de casas e do comércio da região estavam secas. Se fosse no sistema antigo, o "extraoficial", seria um dia "com água".
"A gente já tinha pouca. Agora [com o racionamento novo] vai acabar tudo de vez", brinca o motorista particular Emilio Alves, 55.
Sua caixa d'água tem 500 litros e não dá conta de armazenar o suficiente para um dia inteiro sem abastecimento. Então ele guarda água em baldes e em um galão.
| Zanone Fraissat/Folhapress | ||
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| Emilio Alves, motorista particular, com galão para água |
Os cortes geralmente acontecem de madrugada. Por isso, Alves costuma acordar durante a noite para tomar o banho do dia. "O pior é que, com racionamento ou não, a conta vem todo mês", diz.
A comerciante Maria Nicelda, 42, moradora do bairro, também usa baldes para economizar a reserva da caixa. "Aqui a gente vive sem água toda semana, há anos."
"Para economizar, a gente nem lava o cabelo em dia que não chega água da rua", relata a comerciante, que tem uma caixa de 500 litros para atender três pessoas.
O Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), responsável pelo abastecimento em Guarulhos, diz que corta água em alguns bairros, como o Bom Clima, porque a cidade tem demanda de água maior do que consegue distribuir.
RACIONAMENTO
Oficialmente, 210 mil pessoas já enfrentavam corte no fornecimento na cidade desde fevereiro. Ontem, mais 850 mil moradores passaram a ter água dia sim, dia não.
| Editoria de Arte/Folhapress |
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Segundo o Saae, a ampliação do corte vai atingir mais de 200 bairros, num esquema de escala.
O órgão compra 87% da água que distribui da Sabesp, do governo do Estado. Boa parte desse volume vem do sistema Cantareira, cujo reservatório estava com 15,5% da capacidade ontem.
O racionamento em Guarulhos foi ampliado porque a Sabesp decidiu vender menos água para a cidade, que tem 1,3 milhão de moradores. Para avisá-los, o Saae usará carros de som e informes em emissoras de rádio e jornais.