Folha de S. Paulo


Manifestação na Ceagesp tem depredação, veículos incendiados e tiros

Uma manifestação contra a cobrança de estacionamento da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) terminou com veículos e dois prédios parcialmente incendiados nesta sexta-feira (14). A confusão também teve tiros por parte dos seguranças da Ceagesp que tentaram impedir a entrada dos manifestantes no prédio administrativo do maior entreposto de alimentos da América latina. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Não há informações sobre detidos.

Além de danificarem as cabines de cobrança do estacionamento, que passaram a funcionar ontem (13), o grupo incendiou um caminhão-guincho, um carro, uma caçamba de lixo e fizeram várias barricadas utilizando lixos e caixotes. O prédio administrativo e outro imóvel também foram parcialmente incendiados. O protesto começou por volta das 10h no portão três do Ceagesp e se espalhou com rapidez por outras partes do entreposto.

A Tropa de Choque da PM foi acionada e chegou a usar bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes, o que ocorreu somente no início da tarde. O Corpo de Bombeiros foi ao local para combater o incêndio, mas precisou esperar do lado de fora até que a situação fosse controlada. O incêndio foi extinto somente às 14h. Os bombeiros utilizaram 12 carros e 35 homens durante a operação.

TIROS PARA O ALTO

A Ceagesp informou que há quatro seguranças feridos a pauladas e pedradas pelos manifestantes. A companhia diz que esses seguranças andam armados e que eles atiraram para o alto para tentar espantar o grupo que tentou invadir o prédio administrativo. Pelo menos um manifestante ficou ferido na região do abdômen, conforme presenciou a reportagem da Folha. Ele foi levado ao Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo), onde passava por uma cirurgia. Ainda não há confirmação se ele foi ferido por um tiro. A Ceagesp nega que os seguranças tenham atirado em alguém.

O protesto deixou um rastro de destruição e afugentou os consumidores do local em um dos dias de maior movimento, causando prejuízo aos permissionários. "Meu prejuízo foi de pelo menos R$ 3.000", disse Nalva Lucindo, que vende abacaxis. Já Cesar Itiki, que vende legumes, também reclamou do sumiço dos clientes. "Não vai mais ter movimento hoje", disse ao lado dos funcionários que guardavam as couves em caixotes no início da tarde.

José Luiz Batista, presidente do Sincaesp (Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo), disse que ocorreu uma "revolta popular" porque o sistema de cobrança de estacionamento do local apresentou problemas. "Na hora de validar o cartão para sair, o sistema não funcionou. Isso revoltou quem estava lá há horas enfrentando o problema", comenta.

O presidente do Sincaesp disse que os motoristas também enfrentaram longas filas para entrar na Ceagesp e que após pagar pelo estacionamento, não conseguiam sair do local.

O sindicato negou participação no protesto. O advogado do Sincaesp, Rafael Pinto de Moura Cajueiro, disse à Folha que o quebra-quebra não foi promovido pelos transportadores que atuam ali. "Estamos com a suspeita de que alguns que causaram tudo isso foram pagos por pessoas que querem colocar a culpa nos trabalhadores", disse Cajueiro.

Segundo ele, os permissionários haviam programado um ato pacifico para segunda-feira (17). Sem dizer nomes, ele afirmou que há suspeita de que pessoas da própria Ceagesp estejam querendo incriminar permissionários que são contra o novo sistema de cobrança. Sem dar detalhes, ele disse que essas pessoas têm, segundo ele, interesses no novo modelo recém-implementado.

Ainda segundo Cajueiro, o novo sistema "matou o faturamento" do pequeno empresário que atua ali. "Essa cobrança de pedágio vai render milhões à empresa que ganhou e aquele que tem seu único caminhão vai pagar a conta", disse.

SISTEMA DANIFICADO

Procurada, a Ceagesp informou que os sistemas de cobrança eletrônico estão comprometidos e que não devem funcionar nos próximos dias, porém, a cobrança do estacionamento deverá ser feita de forma manual. A companhia diz que amanhã o funcionamento será normal. A C3V, concessionária responsável pela organização do sistema viário do Ceagesp, lamentou o ocorrido e disse que a operação de acesso funcionou normalmente hoje.

A C3V disse ainda que a implantação da cobrança de tarifa de acesso começou a ser informada aos comerciantes, caminhoneiros e frequentadores da Ceagesp no primeiro semestre de 2013. "De lá até hoje, houve inúmeras reuniões e visitas a associações e comerciantes, foram afixados cartazes e faixas, distribuídos panfletos e concedidas entrevistas à imprensa, informando sobre a operação iniciada ontem", informou a concessionária.

Segundo a Ceagesp, nas sextas-feiras é normal o aumento do número de caminhões que esperam para entrar no entreposto. As filas para entrar no local começaram na madrugada.

A tarifa para os caminhões de dois eixos começa em R$ 4, para a permanência até quatro horas, e sobe progressivamente até R$ 50 para um período acima de dez horas. Para caminhões de 3 a 6 eixos, o teto é R$ 60 -automóveis têm valores diferenciados.

Ontem, a Ceagesp havia informado que o novo sistema não havia provocado grandes transtornos, mas admitiu que o grande teste seria hoje, dia de alta frequência no local.


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