Folha de S. Paulo


Governo manterá bônus por economia de água até o fim do ano em SP

A presidente da Sabesp, Dilma Pena, confirmou que o programa de economia de água que dá 30% de desconto na conta daqueles que são abastecidos pelo sistema Cantareira será prolongado pelo ano todo. A ideia é preservar o manancial e garantir o abastecimento ao longo de 2014. Nesta terça-feira, o volume de água armazenada era 15,8% da capacidade total do reservatório.

O desconto só é dado para aqueles que reduzirem a partir de 20% o consumo médio (em relação aos últimos 12 meses). Quando lançou o programa, no começo do ano, o governo do Estado havia afirmado que iria avaliar mensalmente a necessidade de prorrogação do bônus.

O programa vale somente para os usuários do sistema Cantareira, que segundo Dilma Pena, é o grande problema da Sabesp atualmente. "Não é um problema de saneamento, mas de crise hídrica. Tivemos um verão sem chuvas, isso é inédito".

O governado de São Paulo, Geraldo Alckmin, corroborou as palavras de Dilma. Segundo ele, este verão foi excepcional, um dos mais quentes da história. "É a maior seca dos últimos 84 anos. Só tivemos seca nesse nível em 1930", diz.

O sistema de bônus, no entanto, não será estendido às áreas abastecidas por outros reservatórios.

Alckmin afirmou que a crise hídrica não atingiu todos os reservatórios. "Não foi igual [em todos os reservatórios]. Tem alguns com mais de 90% de água, como é o caso de Cotia e Rio Grande. O problema é localizado no sistema Cantareira."

Por isso, a hipótese de racionamento de água não está totalmente descartada. "É uma questão que tem que ser monitorada dia a dia."

Nelson Antoine/Parceiros Folhapress
Nível do sistema Cantareira chegou a 15,8% nesta terça-feira (11)
Nível do sistema Cantareira chegou a 15,8% nesta terça-feira (11)

Segundo a presidente da Sabesp, desde que foi anunciado o desconto na conta de água foram economizados 3,2 m3 de água por segundo, ou seja, cerca de 1% da produção diária do sistema Cantareira.

De acordo com Pena, a partir de abril o sistema Guarapiranga vai passar a atender cerca de um milhão de pessoas que hoje são atendidas pelo Cantareira. "Estão sendo feitas adequações que permitirão transferência de água do Guarapiranga para abastecer a região oeste", disse Pena.

Desde ontem, nove bairros paulistanos deixaram de ser abastecidos pelo sistema Cantareira a partir de segunda-feira e passaram a receber água do sistema Guarapiranga e do Alto Tietê. No total, 1,6 milhão de pessoas tiveram suas fontes de água alteradas.

Somando as duas medidas para diminuir o número de pessoas atendidas pelo Cantareira, em abril, o sistema terá deixado de atender quase 3 milhões de pessoas, ou 30% das pessoas atendidas anteriormente na região metropolitana.

QUEDA DE BRAÇO

Na manhã desta terça-feira, Dilma Pena também minimizou os ataques feito pelo consórcio PCJ – congrega prefeituras, empresas e entidades de mais de 40 cidades na área de influência dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí –, que acusou a Sabesp de não reduzir sua dependência do Cantareira e de atentar contra a vida útil do sistema.

Segundo ela, transferências de água de uma bacia para outra existe em "todo o mundo, sempre existiu e sempre vai existir".

O nível cada vez mais crítico do sistema Cantareira, que abastece diretamente 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo e indiretamente 5,5 milhões no interior do Estado, abriu uma guerra pela água entre a Sabesp (empresa estadual de saneamento) e o consórcio que reúne os interesses das regiões de Campinas, Piracicaba e Jundiaí.

Segundo o consórcio, a Sabesp permaneceu retirando aproximadamente 31 m³/s (metros cúbicos por segundo) de água do Cantareira, "mesmo sabendo do risco para a vida útil do sistema", durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, "levando os reservatórios a níveis abaixo de 20%, considerados altamente críticos". Para a região dos rios PCJ, são liberados do Cantareira apenas 3 m³/s.

"É preciso que os órgãos de gestão de conflitos atuem fortemente para evitar esta politização em termos inadequados", afirmou Pena em referencia a acusação da PCJ sobre má gestão da Sabesp dos recursos hídricos do Cantareira.

Segundo a presidente da Sabesp, "sempre houve conflito" entre a região do PCJ e a Grande São Paulo, pra isso foi criada a ANA (Agência Nacional de Águas).


Endereço da página: