Folha de S. Paulo


Sem chuva, Noronha sofre com falta d'água; solução pode levar 6 meses

O arquipélago de Fernando de Noronha (PE) enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos, o que já afeta o abastecimento de moradias, pousadas e restaurantes. E a previsão não é animadora: se não chover, a situação só vai se normalizar no segundo semestre.

Há 20 dias praticamente sem água, a população local bloqueou no sábado a BR-363, única rodovia da ilha, que dá acesso ao aeroporto. Passageiros tiveram de caminhar até o terminal carregando a própria bagagem. A empresa que administra o aeroporto diz que turistas chegaram a perder o voo, mas não soube precisar quantos foram prejudicados.

Na madrugada de domingo, houve um incêndio na vegetação que margeia a pista do aeroporto, com labaredas de até quatro metros de altura. A Polícia Federal investiga se o fogo foi criminoso.

A falta de chuva fez com que o açude do Xaréu, principal manancial de Noronha, secasse. A situação ficou mais crítica por causa da longa temporada de verão. Com o grande fluxo de turistas até o Carnaval, ilhéus e visitantes passam nove dias sem água, intercalado com um dia com água.

Fernando de Noronha recebe 246 turistas por dia, em média. Na alta temporada, o número salta para 316, de acordo com a administração do arquipélago.

"Tem três carros-pipa abastecendo aqui, mas, se pede [um carro] hoje, só chega daqui a seis dias. Está todo mundo racionando", disse o funcionário público Naldo Soares, 49, nascido em Noronha.

Os dessalinizadores que transformam a água do mar em água potável não dão conta da demanda e, segundo moradores, só funcionam quando a maré está alta.

A empresa diz ter um projeto de "aperfeiçoamento" dos dessalinizadores orçado em R$ 4,7 milhões, mas que garantiria água somente a partir do segundo semestre.

"Como as previsões de chuvas para ilha não têm sido muito animadoras, a solução será a implantação do novo sistema projetado, com prazo de execução de seis meses a partir de sua contratação", informou a companhia, em nota. As obras começam no fim de março.

O consumo diário de água no arquipélago é de 1.392 m³/dia. Na alta temporada, aumenta 20%, segundo a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento).

POUSADAS

O turismo, principal atividade econômica do arquipélago, já sofre os impactos da falta de água. Segundo a Associação de Pousadas de Fernando de Noronha, três das 96 unidades estão recusando hóspedes.

"Não está nada fácil. Não podemos esperar seis meses, inclusive passando o período da Copa do Mundo. O projeto precisa ser tocado de forma emergencial", disse o presidente da associação, Pedro Henrique da Costa Neto.

Restaurantes estão limitando o horário de funcionamento. Na pousada de Ju Medeiros, o restaurante só abre agora para o café da manhã dos hóspedes.

"Desse jeito vai acabar com o turismo da ilha. Mas acredito que eles vão ter uma solução antes disso [dos seis meses] porque o vexame vai ser muito grande para [o governador de Pernambuco] Eduardo Campos", disse o empresário.


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