Folha de S. Paulo


Garis do Rio conseguem aumento de 37% e encerram greve

A paralisação dos garis do Rio, que durou oito dias e deixou toneladas de lixo espalhados pela cidade durante o Carnaval, foi encerrada na noite deste sábado (8) após os trabalhadores negociarem com a prefeitura um aumento de 37% no salário-base da categoria, que passará de R$ 803 para R$ 1.100.

O acordo, firmado entre a comissão de greve e a prefeitura, foi intermediado por representantes do Ministério Público do Trabalho e do Tribunal Regional do Trabalho. A reunião durou cerca de quatro horas e meia.

Além do aumento, os garis conseguiram a garantia de que nenhum funcionário será demitido– durante a greve, a Comlurb havia anunciado a demissão de 300 grevistas- e um reajuste no valor do ticket alimentação, que passou de R$ 12 para R$ 20 diários. Dos 15 mil garis do Rio, 70% aderiram a paralisação, segundo a categoria, e voltarão imediatamente ao trabalho.

De acordo com os grevistas, a cidade já estará limpa na próxima segunda. Para a prefeitura, esse trabalho ainda deve se estender por três ou quatro dias.

O acordo contemplou as principais reivindicações do movimento grevista. Desde o início da paralisação, os garis pediam salário base de R$ 1.200, mais 40% de adicional de insalubridade; a prefeitura inicialmente ofereceu piso de R$ 874, mais os 40%, proposta aceita pelo sindicato da categoria, mas rejeitada por parte dos garis, que mantiveram a paralisação.

Sob a acusação de que grevistas estariam ameaçando o restante dos trabalhadores, a prefeitura colocou escolta policial para acompanhar a coleta de lixo na cidade. Após o prefeito Eduardo Paes (PMDB) dizer, na manhã de ontem, que o movimento não era uma greve, mas um "motim", por não ter sido convocado pelo sindicato, a audiência de conciliação marcada para a próxima terça foi antecipada para sábado, no Tribunal Regional do Trabalho.

Depois do anúncio do acordo, o secretário chefe da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho, afirmou que o reajuste impactará no orçamento anual da empresa de limpeza urbana. "Do orçamento anual de R$ 1,4 bilhão da Comlurb, a folha de pagamento demanda R$ 700 milhões. Com o acordo, haverá um impacto de R$ 400 milhões a mais na folha", afirmou Carvalho.

Célio Viana, membro da comissão de greve dos garis, comemorou o que ele considerou uma vitória do movimento grevista. "Foi um processo construído e desenvolvido para entrar na história. Só houve avanço porque as partes entenderam que o que estava em jogo era o futuro do Rio", afirmou.

MUDANÇA DE POSTURA

Após a reunião que fechou o acordo com os grevistas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, mudou de tom em relação ao movimento. Em entrevista na manhã deste sábado, classificou a greve como motim. Seis horas mais tarde, na coletiva que se seguiu a reunião, disse que "os garis são a alma da cidade" e que se pudesse atenderia a todas as demandas dos grevistas.

Atribuiu a mudança de postura ao fato de, após a reunião mediada pela Justiça do Trabalho, a pauta dos grevista ter ficado mais clara. "É a primeira vez que juntos estamos tendo uma reunião organizada. É muito difícil discutir com o movimento, cujas partes não sabemos quais são. Até então, não havia pauta na mesa".

Paes ressaltou, no entanto, que não sabe como será a adequação do orçamento e os cortes necessários para fazer frente ao reajuste. Disse ainda que os que faltaram ao trabalho nos últimos oito dias terão de compensar de alguma forma, ainda que não tenha explicado como isso será feito.


Endereço da página:

Links no texto: