Folha de S. Paulo


Para especialistas, SP já deveria adotar racionamento leve

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que um racionamento moderado, de poucas horas por dia, por exemplo, é uma das estratégias que deveriam ser adotadas já, pelo governo do Estado, para controlar a crise de falta de água no sistema Cantareira.

Sem essa medida de rodízio de água o gerenciamento das represas está sendo feito sob um alto risco, avaliam.

Segundo Stela Goldstein, ex-secretária estadual de Meio Ambiente e diretora da ONG Águas Claras, o cenário atual indica que não há "condições de afastar o racionamento [de água]".

Mas a ambientalista lembra que a crise aguda de água é fruto também de outro problema grave, estrutural e de longo prazo. "Os mananciais não apenas de São Paulo, mas de todas as grandes cidades, precisam ser mais protegidos. As empresas de saneamento, por exemplo, não têm obrigação legal de preservar o entorno dos reservatórios", afirma Stela. "Mesmo no caso do Cantareira, a ocupação [das margens das represas] tem aumentado", diz.

Ainda do ponto de vista técnico, o mês de março será decisivo para determinar as ações que terão de ser adotadas durante os meses de inverno no gerenciamento do Cantareira.

Funcionários da própria Sabesp ouvidos pela reportagem admitem que a decisão de remanejar água de outros reservatórios não é sustentável a longo prazo.

Para que o racionamento seja descartado, é preciso que as chuvas das próximas três semanas fiquem muito acima da média dos últimos meses.

Caso não chova o suficiente nesse período, aumentará o risco de falta de água no segundo semestre.

Nesse cenário, os órgãos técnicos que regulam a vazão no sistema (e que agora determinaram a redução da captação) poderiam ordenar uma nova restrição ao volume de água que pode ser retirado do Cantareira.

A previsão para a divisa de São Paulo com Minas Gerais, pelo menos até meados de março, não é favorável. Existe chance de chuvas, mas não excepcionais.

Adriano Vizoni/Folhapress
Centro de controle operacional da Sabesp, em Pinheiros; especialistas defendem racionamento leve para conter crise
Centro de controle operacional da Sabesp, em Pinheiros; especialistas defendem racionamento leve

TEMPO

Com a decisão de intensificar o remanejamento de água de outros sistemas para evitar a implementação do rodízio, o governo do Estado e a Sabesp tentam ganhar tempo para acompanhar a evolução das chuvas e postergar medidas impopulares.

Aliados de Alckmin (PSDB) temem o impacto político que uma crise no abastecimento de água pode ter sobre sua campanha à reeleição.

A avaliação é que o racionamento em São Paulo só não será explorado pela oposição se houver também uma crise no sistema elétrico, que é regido pelo governo federal.

O baixo nível dos reservatórios de água das regiões Sudeste e Centro-Oeste também afeta a produção de energia, elevando o risco de o país precisar racionar parte de sua energia elétrica.

Em meio à crise causada pela falta de chuva, Alckmin inaugurou ontem, com dois anos de atraso, uma estação de drenagem de água da chuva para evitar alagamento na marginal do Tietê.

Ao visitar as instalações e se aproximar da bomba que lança a água no rio, acabou se molhando com a água suja da chuva acumulada.

Editoria de arte/Folhapress

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