Folha de S. Paulo


Sem acordo, greve de ônibus em Curitiba pode acabar só depois do Carnaval

Em greve por aumento salarial desde ontem, motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba não chegaram a acordo com as empresas de transporte nesta quinta-feira (27) e devem continuar paralisados até depois do Carnaval.

Um novo encontro entre trabalhadores e empresários foi marcado apenas para a próxima quinta-feira (6), no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Até lá, cerca de 2 milhões de pessoas ficarão sem transporte –este é o número de passageiros transportados pelos ônibus de Curitiba diariamente.

"Há uma intransigência terrível do poder público e das empresas", reclama o advogado do Sindimoc (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba), Elias Mattar Assad. "Não querem que a tarifa suba. Claro, é justo. Mas não pode se exigir sacrifício da classe trabalhadora em prol da passagem."

As empresas afirmam que a discussão sobre a passagem tem de ser feita. "Não somos irresponsáveis de aceitar uma proposta que impacte a tarifa e me deixe sem passageiro no ônibus", diz o advogado do Setransp (sindicato das empresas de ônibus de Curitiba), Carlos Santiago. "Não adianta resolver um problema agora e criar outro lá na frente."

A passagem de ônibus em Curitiba hoje custa R$ 2,70.

PALIATIVOS

Hoje, apenas metade dos ônibus estão nas ruas. A prefeitura fez "um apelo para que os sindicatos suspendam a greve" enquanto durarem as negociações.

O município cadastrou vans e carros particulares para fazer o trajeto das linhas e vai colocar inclusive carros próprios neste serviço a partir de amanhã. O preço cobrado por usuário é de no máximo R$ 6.

A ordem do TRT é que 50% dos ônibus circulem nos horários de pico e 30% nos demais horários. O sindicato dos trabalhadores diz que irá cumprir a decisão.

REIVINDICAÇÃO

Os motoristas de ônibus recebem R$ 1.660 por mês, e os cobradores, R$ 940.

Hoje, no TRT, chegou-se a uma proposta patronal de 7,36% de reajuste, incluindo a inflação, o que daria um aumento real de cerca de 2%.

Os trabalhadores, porém, querem 10,5% no total. Não houve acordo.

O pleito dos trabalhadores representaria, segundo o advogado do Sindimoc, um impacto de 18 centavos na tarifa de ônibus, enquanto a proposta dos empresários aumentaria a tarifa em 10 centavos.

Esse aumento, vale ressaltar, pode ser bancado pelo poder público, por meio de subsídios. Hoje, prefeitura e governo do Paraná já pagam 23 centavos da tarifa por passageiro, uma vez que o custo real da passagem é de R$ 2,93.

CONTEXTO

A greve é mais uma das pressões sobre a tarifa de ônibus de Curitiba.

Além dos motoristas e cobradores, que pedem aumento salarial, os empresários do transporte reclamam que estão acumulando prejuízos e que recebem menos do que deveriam, e os usuários se queixam da qualidade do sistema.

Por outro lado, órgãos de controle como o TCE (Tribunal de Contas do Estado) e a Câmara Municipal apontaram sobrepreço da tarifa de ônibus, que, segundo os relatórios, poderia baixar até 48 centavos com o corte de algumas despesas.

O prefeito Gustavo Fruet (PDT) diz que está obedecendo os contratos vigentes.


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