Folha de S. Paulo


Engarrafada, Campinas vê estradas da região virarem 'avenidas' da cidade

As estradas que cortam Campinas travaram, literalmente, devido ao excesso de tráfego urbano e, na prática, se transformaram em "avenidas" da cidade que, apesar de ser do interior paulista (a 93 km de São Paulo), é uma das maiores do país –a terceira do Estado.

Os congestionamentos se concentram no início da manhã e finais de tarde, quando motoristas passam pelas rodovias para ir ou retornar do trabalho, tanto em Campinas como nas cidades vizinhas.

Em alguns trechos, onde a velocidade máxima permitida é de 100 km/h, é raro conseguir trafegar acima dos 40 km/h.

Para diminuir os gargalos, há obras em andamento, como a construção de marginais na Anhanguera e na D. Pedro 1º, e outras sendo planejadas.

Segundo levantamento feito pela Folha com as concessionárias que administram rodovias da região, todos os dias são registrados ao menos 26 km de trânsito pesado e lentidão, principalmente nos horários de pico.

Embora pequena – se comparada aos dados paulistanos, que chegam a registrar num único dia mais de cem quilômetros de trânsito –, a marca se refere apenas às estradas da região.

Os maiores gargalos estão na Anhanguera, na D. Pedro 1º e na Santos Dumont, que foram praticamente "engolidas" pelo crescimento dos municípios.

Elas dão acesso a bairros afastados de Campinas e a cidades como Sumaré, Hortolândia, Americana, Santa Bárbara d'Oeste e Indaiatuba, todos com mais de 200 mil habitantes.

"O problema é esse. Como a região metropolitana é praticamente uma cidade expandida, tem muita viagem cotidiana nessas estradas", afirma Carlos Alberto Guimarães, doutor na área de transportes pela Unicamp.

"É preciso criar alternativas para que as rodovias não sejam a única opção de qualidade", completa.

Segundo Ulysses Semeghini, secretário de Planejamento de Campinas, a cidade foi se urbanizando em direção às estradas, e "elas se tornaram vias urbanas".

Das quatro avenidas mais movimentadas na cidade – todas com fluxo superior a 70 mil veículos por dia –, três interligam o centro a rodovias.

'TEMPO PERDIDO'

O engenheiro Gustavo Aldegheri, 33, mora próximo à Unicamp, em Barão Geraldo, e trabalha em uma indústria ao lado de Viracopos. Para ir e voltar do trabalho, trafega pelas rodovias D. Pedro 1º, Anhanguera, Bandeirantes e Santos Dumont e leva entre 45 e 50 minutos para percorrer 35 quilômetros. Sem trânsito, gastaria 20.

"Eu pego trânsito todo dia na D. Pedro, que vira praticamente uma avenida. Tem dia que dá para andar a até 60 km/h, mas às vezes trava tudo. A Anhanguera é pior ainda, por isso uso a Bandeirantes", diz Aldegheri.

"A maioria do pessoal no trabalho mora em Indaiatuba [cidade vizinha], porque é mais rápido [para chegar] do que morar em Campinas."

Segundo Guimarães, doutor na área de transportes pela Unicamp, a situação deve piorar. "Mesmo que as concessionárias aumentem a capacidade de fluxo, a tendência é o volume de veículos crescer e as pessoas encararem a região como uma única cidade", diz.

"O ideal seria o Estado pensar em um plano diretor de trânsito para a região inteira, não só para Campinas. A 'metropolização' está cada vez mais consolidada."


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