Folha de S. Paulo


Após confronto, reintegração de posse tem 15 feridos e 3 detidos

A reintegração de posse que provocou confrontos entre moradores e policiais militares na manhã e tarde desta quinta-feira deixou ao menos 15 pessoas feridas e outras três detidas. Por volta das 18h10, o clima já era mais tranquilo no local e moradores retiravam seus pertences dos prédios.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o Samu socorreu 13 pessoas no local, sendo encaminhadas para cinco hospitais da região. A pasta havia informado no começo da noite que eram 16 pessoas, mas corrigiu o número posteriormente. A secretaria disse ainda que uma das pessoas teve ferimentos graves e foi levada ao Hospital Dr. Alípio Correa Neto.

Além dos atendidos pelo Samu, há dois PMs que tiveram ferimentos leves durante o confronto.

Um capitão da PM que acompanha a reintegração afirmou que três pessoas foram detidas durante o confronto. Duas delas teriam jogado objetos contra policiais militares e a terceira foi detida por desacato. Elas foram levadas para a delegacia da região.

A reintegração começou por volta das 9h. Moradores montaram barricadas para impedir a passagem da PM, que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes que responderam a ação com pedras e coquetéis molotov. Cerca de 120 policiais participaram da ação.

Moradores chegaram a quebrar portas e janelas e incendiaram o interior de alguns apartamentos.

Mesmo após a dispersão dos manifestantes, um novo confronto foi registrado por volta das 15h30, quando moradores voltaram a se concentrar em uma rua lateral ao conjunto habitacional ocupado. A PM usou bombas de gás e algumas pessoas jogaram pedras contra os policiais.

"ENERGIA NECESSÁRIA"

Mais cedo, o comandante da operação de reintegração de posse de um conjunto habitacional na zona leste de São Paulo, Major Edilson Batista, disse que a PM agiu com a "energia necessária" durante a ação desta quinta.

"Nós usamos a energia necessária para transpor barricadas montadas pelos moradores, que não eram poucos. Tinhas seis barreiras de um metro e meio de fogo", disse o major.

Segundo o oficial, a ação foi orquestrada não pelos moradores do conjunto habitacional e sim por pessoas "infiltradas". Batista ainda garantiu que não haviam crianças e mulheres durante a ação.

"Os que estavam reagindo contra a decisão judicial não eram moradores e não tinha mulheres nem crianças. Eram pessoas que precisamos identificar que estavam dentro do movimento deles, com um único objetivo de realmente criar uma situação de confronto que fizemos de tudo para evitar", afirmou.

Os moradores contestam a versão da PM e dizem que a polícia agiu com muita violência. Sebastião Antonio, 53, é pedreiro e invadiu um dos 940 apartamentos há oito meses.

Ele disse que no começo da manhã foi feito um "cordão de isolamento humano" para evitar a entrada da PM no prédio. Momentos antes da ação da PM, os moradores, de braços dados, chegaram a cantar o hino nacional e rezar.

"Não sabia o que fazer. Eram bombas de todos os lados, inclusive partindo do helicóptero da polícia que sobrevoava os prédios. Parecia uma guerra, aquela guerra da Síria", disse o pedreiro.

Os moradores reagiram jogando pedras, segundo ele, "por desespero". "A polícia reagiu muito violentamente", conta Antonio, que há nove anos espera por uma moradia cedida pelo governo. "Cadê o poder público?", questiona.

APARTAMENTOS

O conjunto habitacional tem 940 apartamentos, divididos em 48 torres e cinco blocos. Segundo moradores, vivem no local ao menos 3.000 pessoas.

A Caixa Econômica Federal informou que ao ser concluído o processo de reintegração, uma a equipe técnica fará uma vistoria no empreendimento para avaliação dos possíveis danos e assim promover a recuperação necessária dos imóveis que estiverem danificados.


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