Folha de S. Paulo


Júri do Carandiru será retomado hoje com testemunhas de defesa

O julgamento de 15 PMs que atuaram no massacre do Carandiru deverá ser retomado na manhã desta terça-feira, por volta das 10h30. Hoje, estão previstos os depoimentos de duas testemunhas da defesa.

De acordo com o advogado Celso Vendramini, o ex-secretário da Segurança Pública, Pedro Franco de Campos, será ouvido no júri. Ele foi chefe da pasta na época do massacre.

Além do ex-secretário, um agente penitenciário foi arrolado pela defesa dos policiais e também deverá prestar depoimento.

Após essa etapa, o juiz Tellini de Aguirre Camargo poderá chamar os réus para iniciar os interrogatórios.

A defesa dos policiais afirmou ontem que todos os 15 réus irão responder as questões apresentadas no plenário e terão a oportunidade de apresentar suas versões ao júri.

Nos julgamentos anteriores, os policiais com patentes inferiores não responderam as perguntas feitas, deixando que os PMS de patentes superiores respondessem pela tropa.

Nessa terceira fase do julgamento, 15 PMs do COE (Comando de Operações Especiais) respondem pela morte de oito detentos e outras duas tentativas de homicídios do terceiro andar do pavilhão nove, no Carandiru, em 2 de outubro de 1992.

Em abril do ano passado, 23 PMs que entraram no primeiro andar do prédio foram condenados a 156 anos de prisão cada um, e outros três foram absolvidos após pedido da Promotoria. Na segunda etapa, em agosto, 25 PMs receberam pena de 624 anos.

PRIMEIRO DIA

No primeiro dia de julgamento foram ouvidos o perito criminal Osvaldo Negrini Neto e o então diretor de segurança e disciplina do Carandiru, Moacir dos Santos. Uma terceira testemunha de acusação, o sobrevivente do massacre Marco Antonio de Moura, não pôde comparecer.

Negrini Neto disse que não houve confronto balístico das armas dos PMs com os vestígios encontrados nas paredes e nas vítimas do massacre -informação que favorece a defesa dos policiais.

"Os confrontos balísticos nunca foram realizados por falta de equipamento e pelo acúmulo de tempo que seria demandado", afirmou Negrini.

O fato de exames detalhados de balística não terem sido feitos é um dos principais argumentos da defesa dos policiais.

Apesar disso, segundo o perito, os exames possíveis e realizados no local do crime apontavam que a grande maioria dos disparos foi feita em direção ao interior das celas onde estavam os detentos -o que indicaria uma ação violenta dos policiais.

Santos, o ex-diretor de segurança e disciplina, que também participou dos outros dois julgamentos, disse que os presos não tinham armas de fogo e que eles não atiraram antes de a PM entrar no pavilhão 9.

Segundo ele, nos cinco anos que antecederam o massacre, foram apreendidas apenas cinco armas de fogo com os presos do Carandiru.

O ex-diretor de disciplina reforçou as declarações do perito, dadas anteriormente, de que a PM dificultou e retardou a entrada de funcionários e autoridades no pavilhão após as mortes e que as cenas do crime foram modificadas, pois os mortos foram quase todos amontoados.


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