Folha de S. Paulo


Ex-assessor federal lucra com simuladores para motoristas

Uma das quatro empresas que irão dividir o mercado milionário de simuladores de direção para a formação dos motoristas brasileiros tem como sócio um ex-assessor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) que trabalhou no órgão quando essa exigência já era discutida.

Ligado ao Ministério das Cidades, o Denatran é responsável pela homologação das fabricantes desse item que se tornou obrigatório a partir deste ano para treinar os interessados em tirar a CNH (carteira de habilitação).

Uma das homologadas é a mineira Real Simuladores, criada em 2006 e que desde o início de 2013 tem como sócio Gil Pierre Herck, ex-assessor especial do Denatran.

Herck atuou no departamento em 2011, quando a obrigatoriedade dos equipamentos estava em debate.

Oficialmente, o trabalho de Herck no Denatran durou uma semana, mas ele próprio afirma que atuou no órgão por cerca de três meses.

Herck pediu demissão do Denatran quando reportagem da "IstoÉ" afirmou que ele vinha atuando no órgão como lobista. Segundo a revista, o empresário tem ligação com a Associação Nacional das Empresas de Perícias e Inspeção Veicular. À Folha Herck classificou a denúncia como "uma grande besteira".

Procurado pela reportagem, o Denatran diz que investigará conflito de interesse de Herck no caso dos simuladores.

Zanone Fraissat /Folhapress
Aluna participa de aula em simulador de direção exigido por lei em autoescola de Mogi das Cruzes, em SP
Aluna participa de aula em simulador de direção exigido por lei em autoescola de Mogi das Cruzes, em SP

MÁQUINAS E TAXAS

As outras três fabricantes homologadas são comandadas por empresários ligados ao setor, com contratos anteriores com órgãos de trânsito.

São os casos da Prosimulador (SP), que fornece sistemas para despachantes ao Detran paulista, Indra Esteio (PR) e Real Drive (RS).

A obrigatoriedade dos simuladores foi instituída em junho de 2013 por resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Mas, por pressão das autoescolas, entrou em vigor só neste ano.

Os centros de formação de motoristas dizem que há pouco tempo para garantir a entrega dos simuladores e reivindicam novo adiamento.

O Denatran afirma que os quatro fornecedores são suficientes para a demanda e que as autoescolas podem compartilhar equipamentos.

Outras duas empresas buscam certificação, mas ainda estão nos trâmites iniciais.

Cada máquina custa, em média, R$ 40 mil. Caso cada uma das 11,5 mil escolas compre o simulador, a receita gerada para os fabricantes será de R$ 480 milhões.

A adoção dos simuladores vem senda discutida no Brasil desde 2009, quando um protótipo do equipamento começou a ser desenvolvido.

Cada autoescola que adquirir o equipamento terá um custo fixo mensal de cerca de R$ 1.500, pago às fabricantes, o que vai gerar a receita de cerca de R$ 200 milhões por ano aos fornecedores.

Os pacotes incluem licença dos softwares, manutenção das máquinas, controle de biometria e armazenamento de imagens gravadas durante as aulas, que são encaminhadas aos Detrans.


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