Folha de S. Paulo


Esquadrão Antibombas afirma que cinegrafista foi atingido por rojão

O técnico em explosivo Elington Cacella, do Esquadrão Antibombas da Polícia Civil do Rio, afirmou na tarde desta sexta-feira que o artefato que atingiu ontem o repórter cinematográfico Santiago Ilídio Andrade, 49, da TV Bandeirantes, é um "rojão de vara" à venda em qualquer loja de fogos de artifício.

A declaração foi dada em coletiva de imprensa após o Esquadrão Antibombas periciar o local do crime, analisar imagens e testar o mesmo modelo de explosivo.

Andrade registrava um confronto entre policiais e manifestantes quando um artefato atingiu-lhe a cabeça, explodindo em seguida. O cinegrafista teve afundamento de crânio e passou por uma neurocirurgia. Seu estado é grave.

Um vídeo da agência russa RuptlyTV mostra o momento em que o artefato é disparado. Um tubo preto com ponta em forma de um pequeno cone pode ser visto soltando faísca na parte traseira. O artefato ganha velocidade e "levanta voo", em uma trajetória errática. O artefato explode ao lado do rosto do profissional, soltando faíscas para todos os lados, com efeito parecido com o de fogos de artifício. Na imagem não é possível ver quem acionou o explosivo.

Veja vídeo

"Esse tipo de artefato se assemelha a um foguete. Inicialmente, ele tem uma carga de propulsão. Essa carga vai queimar, fazer a projeção do artefato e no final dela tem uma carga explosiva de arrebentamento", explicou o perito.

"Infelizmente, essa carga explodiu no momento em que atingiu o repórter [cinematográfico]", acrescentou.

Segundo a polícia, a onda de pressão e o efeito térmico são os principais efeitos do explosivo. No final da tarde de quinta-feira (6), o artefato foi lançado a apenas cerca de três metros do cinegrafista.

A distância de segurança mínima é de 30 metros para lançar o explosivo. O uso dele é proibido em manifestações e locais públicos - a não ser que tenha autorização prévia de autoridades.

No local do crime foram encontrados fragmentos do artefato. A polícia afirma que esse tipo de explosivo tem 60 gramas de pólvora e, de acordo com a perícia técnica, seus efeitos- quando manipulado de forma errada - podem causar amputação, lesões graves e até a morte.

Cacella diz que tem sido frequente o uso desse explosivo em protestos no Rio. Ontem mesmo, na Central do Brasil, outro rojão foi lançado perto das catracas dos trens. Nesse caso, ninguém ficou ferido.

O delegado responsável pela investigação, Mairício Lucianoo de Almeida, da 17a DP (São Cristóvão), disse que, agora, analisa imagens de câmeras da prefeitura e do CML (Comando Militar do Leste) para identificar o homem que acendeu o artefato.

Ele pode ser indiciado pelos crimes de homicídio qualificado por uso de explosivo e crime de explosão com pena de até 35 anos de prisão.

BLACK BLOC

Um repórter-fotográfico do jornal O Globo disse, em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo, que viu o momento em que um manifestante adepto à tática black bloc deixou um morteiro solto no chão.

"Tudo indica que um morteiro foi utilizado, mas a gente espera o laudo do Esquadrão Antibombas e da perícia do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) para determinar que tipo de artefato foi aquele. Depois, a gente vai para a segunda etapa que é descobrir quem foi que colocou esse artefato naquele local", afirmou o delegado.

O delegado disse ainda que trabalha com a hipótese do autor do crime ser um manifestante já que o tipo de explosivo não é compatível com os artefatos utilizados pela PM. "Também temos uma testemunha que viu um manifestante de camisa cinza colocando esse artefato aceso no chão. Essa pessoa será ouvida na delegacia ainda hoje", disse.

PROTESTO

O protesto que levou ao ferimento do cinegrafista começou por volta das 17h na igreja da Candelária e seguiu em direção até a Central do Brasil. O número de manifestantes, que era de 600 pessoas, no início do ato, cresceu rapidamente por volta das 19h desta quinta-feira, quando iniciaram os confrontos.

Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas nos corredores da estação. Passageiros a caminho de casa ficaram desnorteados e correram para escapar da cortina de fumaça na área de embarque.

Dentro da Central do Brasil, o grupo promoveu o chamado "roletaço", que consiste em pular as roletas que dão acesso às plataformas de embarque sem pagar a passagem. Inicialmente, a polícia deixou que os manifestantes pulassem as roletas, assim como outros passageiros que aderiram ao "roletaço".

Com a multidão de pessoas no interior da estação, no entanto, houve tumulto e a polícia reagiu lançando bombas de gás lacrimogêneo.

Três catracas foram quebradas pelos mascarados que participam do protesto, assim como um telão instalado no local pela Supervia, a concessionária responsável pela administração dos sistema de trens da região metropolitana do Rio.


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