Folha de S. Paulo


Repórter-fotográfico diz que viu black bloc acender morteiro em ato no Rio

Um repórter-fotográfico do jornal O Globo disse, em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo, que viu o momento em que um manifestante adepto à tática black bloc deixou um morteiro solto no chão. O artefato teria sido o que atingiu o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, 49, da Band, durante a manifestação contra o aumento das passagens, na noite de quinta-feira, no centro do Rio. O protesto ocorreu na praça Duque de Caxias, em frente à Central do Brasil, a principal estação de trens e metrô da cidade.

Policiais civis fizeram a perícia na manhã desta sexta-feira no local. Segundo investigadores, fragmentos da bomba foram recolhidos para análise do Esquadrão Anti-Bombas. De acordo com a Polícia Militar, morteiros não fazem parte do armamento utilizado pela Polícia Militar na repressão a protestos.

A Polícia Civil informou que a PM utiliza três tipos de artefatos explosivos em distúrbios civis: a bomba de pimenta, a bomba gás lacrimogêneo e a granada de efeito moral, que é a que emite luz e som.

"Tudo indica que um morteiro foi utilizado, mas a gente espera o laudo do Esquadrão Antibombas e da perícia do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) para determinar que tipo de artefato foi aquele. Depois, a gente vai para a segunda etapa que é descobrir quem foi que colocou esse artefato naquele local", afirmou o delegado responsável pela investigação, Maurício Luciano de Almeida, à Folha.

O delegado disse ainda que trabalha com a hipótese do autor do crime ser um manifestante já que o tipo de explosivo não é compatível com os artefatos utilizados pela PM. "Também temos uma testemunha que viu um manifestante de camisa cinza colocando esse artefato aceso no chão. Essa pessoa será ouvida na delegacia ainda hoje", disse.

Imagens de uma câmera do Exército que filma em ângulo de 360º graus também serão analisadas. "Buscamos a imagem frontal dessa pessoa que acendeu o explosivo", afirmou.

Até o início da tarde, Santiago continuava em estado grave no hospital municipal Souza Aguiar.

PROTESTO

O protesto começou por volta das 17h na igreja da Candelária e seguiu em direção até a Central do Brasil. O número de manifestantes, que era de 600 pessoas, no início do ato, cresceu rapidamente por volta das 19h desta quinta-feira, quando iniciaram os confrontos.

Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas nos corredores da estação. Passageiros a caminho de casa ficaram desnorteados e correram para escapar da cortina de fumaça na área de embarque.

Dentro da Central do Brasil, o grupo promoveu o chamado "roletaço", que consiste em pular as roletas que dão acesso às plataformas de embarque sem pagar a passagem. Inicialmente, a polícia deixou que os manifestantes pulassem as roletas, assim como outros passageiros que aderiram ao "roletaço".

Com a multidão de pessoas no interior da estação, no entanto, houve tumulto e a polícia reagiu lançando bombas de gás lacrimogêneo.

Três catracas foram quebradas pelos mascarados que participam do protesto, assim como um telão instalado no local pela Supervia, a concessionária responsável pela administração dos sistema de trens da região metropolitana do Rio.

O batalhão de choque da PM entrou em ação. O confronto se espalhou também pelas ruas próximas à Central do Brasil, que fica em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio, na avenida Presidente Vargas.

Ao menos 28 pessoas foram detidas e encaminhados para a 17ª DP (São Cristóvão) e para a 19ª DP (Tijuca).

Além do cinegrafista da Band, outras seis pessoas ficaram feridas.


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