Folha de S. Paulo


Sem ônibus, passageiro caminha por 2 horas para chegar em casa em SP

Algumas pessoas tiveram que caminhar até duas horas na noite desta terça-feira por conta da falta de ônibus nas zonas sul e oeste de São Paulo. Ao todo, 22 linhas pararam ou circularam com restrição por conta dos recentes ataques a coletivos.

O pedreiro Nivaldo Cunha, 54, foi uma das pessoas afetadas. "Saí do trabalho às 18h, perto da divisa com Diadema. Pegue um ônibus até aqui, mas daqui até minha casa, no Jardim Jacira, acho que dá uns 8 km. Vou ter que ir a pé porque a minha linha não está passando", disse por volta das 21h10, no terminal Jardim Ângela.

Percurso semelhante fez a vendedora Deusiene Aparecida Silva do Carmo, 25. Ela saiu às 19h30 da av. Paulista, pegou um ônibus até o terminal Jardim Ângela, de onde seguiria a pé para casa por volta das 21h20. "Estou acostumada com isso porque acontece toda semana".

A reportagem voltou a entrar em contato com Cunha pelo telefone, que afirmou ter chegado a sua casa por volta das 23h10. Já Deusiene não atendeu as ligações feitas no final da noite para confirmar o percurso e o tempo demorado.

A Folha esteve no terminal Santo Amaro, por volta das 22h30, e constatou que várias linhas com destino a bairros da zona sul estavam sem ônibus.

Fiscais ouvidos pela reportagem afirmaram que não havia ônibus para o Jardim Jacira (linha 6014-10), havia previsão de ônibus para o Jardim Nakamira (linha 7023-10) apenas à 0h45 e apenas um carro estava atendendo a linha 7016-10, com destino para o Jardim Angela.

PARADOS

Ao menos 22 linhas de ônibus estão circulando com restrição ou tiveram as viagens suspensas por conta dos recentes ataques a coletivos. Segundo balanço da SPTrans, 28 ônibus foram incendiados desde o início do ano.

A SPTrans afirmou que dez linhas de ônibus da Transppass, que servem os jardins João 23 e Educandário, não estão circulando à noite no interior dos bairros desde o dia 25. Os coletivos, que transportam cerca de 80 mil pessoas, estão retornando seis pontos antes da parada final.

De acordo com nota divulgada pela SPTrans, além do incêndio a coletivos, motoristas e cobradores relatam também casos de ameaça. Com isso, os motoristas estão desembarcando os passageiros na rodovia Raposo Tavares, entre o km 15 e o km 18.

Além disso, quatro linhas operadas pela concessionária VIP e oito linhas da permissionária Cooper Pam tiveram suas frotas recolhidas às garagens, no final da tarde, por determinação das empresas na região do Jardim Ângela. As 12 linhas transportam, diariamente, 120 mil pessoas.

A SPTrans afirmou que acionou o Paese com 20 coletivos para atender as linhas que foram recolhidas pela empresa durante a tarde. O órgão afirma também que solicitou formalmente apoio às autoridades policiais com o objetivo de garantir a segurança e o direito ao transporte público.

A assessoria da SPUrbanuss (sindicato das empresas de ônibus) afirmou que a decisão de não circular por essas regiões não foi das empresas, mas sim dos funcionários que estão com medo dos recentes ataques a coletivos.

A reportagem tentou contato por telefone com o Sindmotoristas (sindicato dos motoristas e cobradores), mas ninguém atendeu as ligações.

ATAQUE

Na tarde desta terça-feira, mais três ônibus foram atacados na zona sul da capital paulista. Dois dos coletivos foram incendiados na estrada do M'Boi Mirim, por volta das 14h. O terceiro ataque ocorreu na rua Citeron e terminou com um ônibus depredado.

A Polícia Militar afirmou que deteve oito pessoas sob suspeita de envolvimento nos ataques. Entre os detidos estão seis são menores de 18 anos. Segundo a polícia, os ataques foram praticados por grupos de cerca de 15 pessoas. As causas não foram informadas.

Com 28 ônibus incendiados desde o início do ano, a SPTrans aponta que o número é maior do que o registrado durante todo o primeiro semestre de 2013, quando ocorreram 21 ataques desse tipo.

Além dos dados contabilizados pela SPTrans, há ainda mais sete coletivos da EMTU (que atende a região metropolitana) incendiados neste mês de janeiro. Segundo o órgão, foram seis em cidades da região metropolitana e um na capital paulista.

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que "todos os casos de ônibus queimados estão sendo investigados pela Polícia Civil, com o firme objetivo de prender os responsáveis. Além disso, a Polícia Militar mantém o policiamento preventivo e ostensivo para combater o problema."


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