Folha de S. Paulo


Homem é baleado durante protesto contra Copa em SP

Um rapaz de 22 anos foi baleado em Higienópolis, na noite desse sábado, durante o protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. A manifestação tomou o centro de São Paulo e terminou em vandalismo e, segundo número oficiais da secretaria de Segurança Pública, 135 manifestantes detidos, sendo 12 menores.

Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves foi encontrado com três tiros –dois no peito e um na virilha–, na esquina da rua Sabará com a rua Piauí, rodeado por um grupo de pelo menos quatro policiais militares, afirmam testemunhas. Segundo a polícia, ele foi atingido por dois tiros.

Na versão da história contada pelos PMs, Chaves foi abordado pelos policiais com um amigo. Ele tentou fugir, mas foi contido. Os policiais, então, revistaram sua mochila e encontraram um artefato explosivo feito em meia lata de cerveja. Durante a revista, o rapaz fugiu novamente e um policial, que tentou contê-lo, teve o braço torcido e precisou ser socorrido.

Outros dois PMs continuaram a perseguição. Em um momento, Chaves pegou um estilete que estava no bolso da calça e se voltou contra os policiais. E, pouco mais à frente, atacou um dos PMs que havia perdido o equilíbrio no desnível da calçada. Foi então que os policiais atiraram.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado, mas, antes que chegasse, os policiais levaram o rapaz para hospital da Santa Casa em uma Kombi da PM, o que contraria a regra que recomenda que os policiais aguardem socorro especializado.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que os policiais decidiram prestar socorro porque o jovem perdia muito sangue e a ambulância demorou a chegar. Ainda de acordo com a pasta, os disparos foram feitos porque o rapaz reagiu à ação policial e tentou atacá-los com um estilete.

No vídeo abaixo é possível ver o rapaz ferido encostado em uma árvore enquanto espera a chegada do socorro. Nas imagens também se vê a reação de dois policiais militares que atendiam a ocorrência.

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"Eu estava em casa, ouvi os disparos e desci para ver o que tinha acontecido. Foi quando vi o jovem deitado agonizando no chão. Ele ficou ali por uns 30 minutos até que a PM levou ele para o hospital. Um minuto depois a ambulância chegou, mas ele já tinha ido embora", disse o gerente comercial José Augusto Kaulino, 47 que testemunhou o caso.

O defensor público Erik Arnesem saía para jantar quando ouviu os disparos.

Em seguida, Arnesem entrou em contato com o defensor Carlos Weis, coordenador de direitos humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que pretende cuidar do caso e exigir a investigação da ocorrência para punir os possíveis responsáveis.

A Folha apurou que policiais levaram Chaves à Santa Casa por volta das 23h30 de sábado. Ele foi encaminhado para o centro cirúrgico e operado durante a madrugada.

O rapaz, segundo informações da Santa Casa, continua internado no centro médico. Ele está em coma induzido e passou, na manhã deste domingo, por uma segunda cirurgia.

A Secretaria de Segurança Pública foi procurada pela reportagem e informou, por meio de nota, que o caso será investigado a pela Corregedoria da Polícia Militar e também pela Polícia Civil. Chaves, segundo a nota, era adepto da tática "black bloc", resistiu à abordagem, fugiu e atacou um policial.

Moradores da região disseram que uma equipe da Corregedoria esteve na região durante a madrugada. Pela manhã, foram encontrados no local manchas de sangue e um par de luvas.

VÍDEO

A rua Augusta, na região central de São Paulo, foi transformada em cenário de guerra no começo da noite de ontem. Manifestantes que protestavam contra a Copa do Mundo foram cercados por policiais do Batalhão de Choque perto da rua Marquês de Paranaguá.

De acordo com comerciantes, os policiais usaram bombas de gás. Sem saída, dezenas de pessoas se refugiaram no hotel Linson, próximo à rua Caio Prado. Parte do comércio fechou as portas.

Em um vídeo, feito pelo fotojornalista Felipe Larozza e disponibilizado hoje pela manhã à Folha, é possível ver homens da tropa de choque com escopetas entrando no hotel em busca desses manifestantes. Os policiais entraram no imóvel, revistaram e prenderam mais de 50 manifestantes.

Ao menos dois disparos, que segundo testemunhas eram de balas de borracha, podem ser percebidos. Os tiros tinham como alvo manifestantes deitados no chão. Os policiais gritam repetidas vezes "no chão, no chão!" e "mão na cabeça!". Depois do primeiro tiro, algumas pessoas gritam, desesperadas: "Calma, calma!".

Também é possível ver um dos policiais empurrando um jovem, já rendido, com o pé. A Polícia Militar ainda não se pronunciou a respeito do vídeo.

A polícia afirma que os homens que entraram armados faziam parte de um grupo de seis policiais da linha de frente da ação. Eles teriam efetuados os disparos porque alguns dos 108 manifestantes que estavam no imóvel resistiram à ação policial.

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EFETIVO

De acordo com a polícia, 2.000 homens foram mobilizados para fazer a segurança de 1.500 manifestantes.

Participaram da operação a Tropa de Choque e a Força Tática da Polícia Militar. Dois helicópteros monitoravam a movimentação do grupo.

Policiais usaram câmeras portáteis de alta definição, semelhantes às que são usadas por motoqueiros em capacetes, para registrar os participantes do protesto.

A manifestação contra a realização da Copa do Mundo no Brasil foi convocada pelo Facebook e tinha cerca de 23 mil confirmados antes de começar.

Colaborou CÉSAR ROSATI


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