Folha de S. Paulo


Protesto contra a Copa termina com pelo menos 128 detidos em SP

Uma manifestação contra a Copa do Mundo terminou com ao menos 128 detidos na noite deste sábado (25), em São Paulo. Depredação e confrontos com a polícia permearam o ato, que contou com "black blocs" entre os manifestantes.

A manifestação foi convocada pelo Facebook e começou de maneira pacífica à tarde, na avenida Paulista. Cerca de mil manifestantes, que haviam se concentrado no vão-livre do Masp, começaram a se deslocar pela avenida, no sentido Paraíso, por volta das 17h.

Entre os integrantes do protesto, que não se identificaram e disseram não ter liderança, havia movimentos como a Anel (Assembleia Nacional de Estudantes - Livre) e Conlutas (Central Sindical e Popular). Eles gritavam frases como "Não vai ter Copa" e "Dilma, vê se escuta, na Copa vai ter luta".

No início da passeata, um grupo de aproximadamente 40 "black blocs" fazia a linha de frente dos manifestantes. Segundo o major da PM Larry Saraiva, 2.000 policiais monitoravam o protesto no local, entre oficiais da Tropa de Choque e da Força Tática – um helicóptero Águia participou da operação.

CORRERIA

A tensão começou quando o grupo virou subitamente na avenida Brigadeiro Luís Antônio, seguindo pela pista sentido centro, por volta das 18h30.

Comerciantes e pedestres se assustaram com a presença dos manifestantes e houve corre-corre. Lojas foram fechadas e pessoas que passavam pela via se refugiaram em um supermercado.

O grupo aumentou e, por volta de 19h, cerca de 1.500 manifestantes chegaram ao centro da cidade, segundo a PM.

Mascarados depredaram pelo menos três agências bancárias, uma concessionária de veículos e uma lanchonete do Mc Donald's. Os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo, e os manifestantes fizeram barricadas.

Por volta das 20h, a Tropa de Choque cercou a rua Augusta e encurralou dezenas de manifestantes dentro do hotel Linson, na altura da rua Caio Prado. Eles se fecharam com os manifestantes dentro do hotel.

Entre 21h e 22h, pelo menos 50 manifestantes foram detidos só no hotel. Eles foram conduzidos em dois ônibus, um micro-ônibus e uma base móvel da Polícia Militar para o 78º DP (Jardins).

Às 22h, a PM informou em seu Twitter que 128 manifestantes haviam sido detidos até aquele momento. O número pode aumentar, já que, às 22h45, mais dois veículos saíram do hotel Linson, levando os últimos manifestantes do local.

Em seu Twitter, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) condenou o ato e classificou os manifestantes como "vândalos".

"Como a imensa maioria dos brasileiros de São Paulo, condeno com energia os atos de violência e vandalismo registrados nesta noite. Digo com alegria que esses vândalos não mancharam um dia que foi inteiro de festa para esta cidade corajosa e orgulhosa de seus valores.", afirmou.

Marlene Bergamo/Folhapress
Após ato contra a Copa no Brasil, ao menos 50 manifestantes são detidos pela Tropa de Choque em hotel na rua Augusta, em SP
Após ato contra a Copa no Brasil, ao menos 50 manifestantes são detidos pela Tropa de Choque em hotel na rua Augusta, em SP

REVISTA

À 0h, dezenas de manifestantes ainda aguardavam sentados no chão do estacionamento do 78º DP (Jardins).

Eles estavam sendo chamados em grupos de cinco para passar por revista e prestar depoimento. Cada grupo ficava, em média, uma hora dentro da delegacia. Na saída, voltavam a esperar no estacionamento.

Um dos manifestantes detidos na delegacia, que não quis se identificar, disse ter visto policiais infiltrados no protesto e afirmou que um grupo de manifestantes entrou no hotel Linson para fugir da violência policial.

Segundo o manifestante, depois de algum tempo a maioria das pessoas no hotel decidiu descer até a entrada, aceitando a revista policial de maneira pacífica.

Outro detido no hotel, Carlos Corrêa, 28, conta que estava na rua Augusta de passagem, caminhando até a avenida Paulista, quando entrou no hotel para fugir da confusão. Apesar de alegar que não fazia parte do protesto, ele também foi detido, qualificado e depois liberado.

Até a última atualização desta reportagem, nenhum manifestante havia sido indiciado.

O delegado Rogério de Camargo Nader afirmou que os detidos estão "sendo averiguados para individualizar a conduta", já que há uma denúncia geral de dano ao patrimônio devido ao depredamento de uma agência bancária e de uma concessionária de carros.

A manifestação deste sábado (25) teve um dos maiores saldos de detidos desde os protestos de junho do ano passado. Um dos mais altos foi o da quarta manifestação pela redução das tarifas do transporte público, no dia 13 de junho, que terminou com 192 pessoas presas em São Paulo.


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