Folha de S. Paulo


Promotor abre inquérito e diz que ação na cracolândia foi 'estranha'

O Ministério Público abriu um inquérito nesta sexta-feira para investigar a operação do Denarc (Departamento de Narcóticos) que terminou em confronto, ontem (23), na região da cracolândia, no centro de São Paulo.

Segundo a Polícia Civil, a ação ocorreu para a prisão de um traficante. Usuários de droga teriam então jogado pedras e pedaços de pau contra os policiais, que retornaram em cerca de dez carros e jogaram bombas de efeito moral contra as pessoas que estavam no local.

"Foi uma ação muito diferente de tudo que já vi do Denarc, fechando ruas e atirando bombas. As operações [do departamento] geralmente são feitas com muita discrição. Agora queremos saber qual a razão. Foi uma ação muito nebulosa, esquisita, estranha", afirmou o promotor Arthur Pinto Filho.

O promotor afirmou que já pediu as imagens das câmeras da prefeitura na região e os documentos da ação, e marcou oitivas com a delegada Elaine Maria Biasoli, diretora do Denarc, com o delegado Osvaldo Naoki Miyazaki, da Corregedoria, e com o secretário de Segurança Urbana, Roberto Porto.

O promotor afirmou que após a apuração deve entrar com "uma ação para que a Polícia Civil fique impedida de praticar ações bárbaras".

"O que ocorreu com a PM, agora ocorreu com a Polícia Civil", comparou o promotor se referindo a uma ações da PM, feita em 2012, que gerou uma liminar da Justiça impedindo "ações que ensejem situação vexatória, degradante ou desrespeitosa" aos usuários de drogas.

CONFRONTOS

O governo paulista disse hoje que as operações policiais na cracolândia não devem parar, mas ressaltou que não haverá mais confrontos.

"As ações de inteligência continuam. Mas reforçamos, depois de ontem, que se houver a possibilidade de um confronto a operação não deve ser feita", disse Edson Ortega, assessor do Estado que atua na cracolândia.

Ortega visitou a cracolândia no começo da tarde de hoje. Ele estava acompanhado do chefe da Casa Civil do governo Alckmin, Edson Aparecido, e do 1º Tenente Willian Thomaz, responsável pela região da Nova Luz.

Segundo Aparecido, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pediu que ele comandasse mais de perto todas as ações do governo no local.

"Há um cuidado em mostrar que existe sim um empenho por parte do governo na parceria com a prefeitura", disse. Segundo ele, o governador pretende fazer do confronto de ontem apenas um episódio isolado. "Queremos deixar explícito que vamos reforçar a parceria com a prefeitura".


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