Folha de S. Paulo


Estrutura precária, lotação e pobreza explicam caos em Pedrinhas

Bastou quebrar uma parede de tijolos, sem ferro nem aço, para membros do Bonde dos 40 deixarem sua ala, invadirem o espaço do PCM e iniciarem uma rebelião na Cadet (unidade do complexo de Pedrinhas) que deixou dez mortos em outubro passado.

O relato é de Pedro (nome fictício), 55, que deixou Pedrinhas no fim do mês passado após cumprir pena por tráfico.
O Maranhão atualmente abriga 4.663 detentos. São 1.242 presos a mais do que comportam as 32 unidades prisionais em São Luís e no interior.

Pedrinhas, com oito presídios, tem 2.196 detentos onde caberiam 1.770, excesso que se repete pelo país. A estrutura das alas no complexo, no entanto, submete os detentos a um confinamento quase diário.

Marlene Bergamo - 6.jan.2014/Folhapress
Presos em cela do Complexo Penitenciários Pedrinhas, em São Luís (MA)
Presos em cela do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA)

Diferentemente de penitenciárias em outros Estado em que presos podem permanecer em pátios durante o dia e jogar futebol, por exemplo, no presídio maranhense o banho de sol ocorre, no máximo, três vezes por semana, por duas horas. No resto do tempo, a opção é ficar na cela, sentado ou deitado.

Com poucas penitenciárias no interior, a concentração de presos na capital agrava a tensão. Como um preso definiu à defensora pública Caroline Nogueira: "É como misturar fogo e gasolina".

O Estado conta com 382 agentes penitenciários concursados, cem a menos do que uma década atrás. O vácuo foi preenchido com 1.500 terceirizados.

O Maranhão foi ainda o terceiro Estado que menos gastou em segurança pública em 2012: R$ 127 por pessoa, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Roberto de Paula, juiz de execuções penais em São Luís, aponta ineficiência do governo maranhense. "Esse sistema é fácil de resolver. Temos 5.000 presos, menos do que os que saem [em indulto] no Natal em São Paulo."

MISÉRIA

A pobreza contribui para o aumento da população carcerária, avalia o magistrado.

Apesar de a governadora Roseana Sarney (PMDB) ter afirmado que o crime cresce porque o Estado está mais rico, o Maranhão ainda é um dos mais pobres do país.

De 2000 a 2010, o Estado ficou parado no ranking brasileiro com o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que considera renda, escolaridade e expectativa de vida, atrás só de Alagoas.

"Há uma total omissão em saúde, educação e geração de renda. Não basta só construir presídio", afirma a defensora pública Lize Maciel de Sá.


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