Folha de S. Paulo


Haddad escala emissários para negociar com líderes de 'rolezinhos'

Preocupado com os desdobramentos da onda de "rolezinhos", que ganharam a adesão de movimentos sociais, o prefeito Fernando Haddad (PT) está enviando emissários para negociar com os adolescentes que organizam os eventos.

O objetivo do prefeito, segundo relataram os jovens contatados à Folha, é tentar convencê-los a transferir os encontros dos shoppings para espaços públicos.

Ao mesmo tempo, também planeja se reunir com os centros de compras para evitar medidas discriminatórias.

Adriano Vizoni - 20.nov.2013/Folhapress
Haddad com o secretário Netinho de Paula durante evento em comemoração ao Dia da Consciência Negra, ao passado
Haddad com o secretário Netinho de Paula durante comemoração ao Dia da Consciência Negra

O escolhido para dialogar com os grupos é o secretário municipal da Igualdade Racial, Netinho de Paula. Ele ordenou que funcionários fossem até a casa desses jovens para convidá-los a se reunir com o prefeito.

"Determinei que fizéssemos o monitoramento da internet e os chamássemos [os jovens] para conversar", afirmou Netinho. "Eu tenho diálogo com eles, eles conhecem minha origem."

O tema, diz o secretário, é prioridade para Haddad. "O prefeito delegou que eu tratasse do assunto e todo dia me liga para saber como está tudo", afirmou.

Editoria de Arte/Folhapress

As visitas aos adolescentes ocorreram um dia após a presidente Dilma Rousseff marcar uma reunião de emergência com os ministros para discutir os "rolezinhos".

O governo teme que os eventos ganhem proporção semelhante aos protestos de rua do ano passado. Um das principais preocupações é evitar a adesão dos adeptos da tática "black bloc".

Os eventos também preocupam o governo do Estado.

Ontem, o secretário da Segurança, Fernando Grella Vieira, também demonstrou preocupação ao falar sobre o possível uso da força policial para conter os tumultos causados pelos eventos.

Em nota, afirmou que os "rolezinhos" são fenômenos culturais e, por isso, não devem ser tratados como crime ou casos de polícia.

O texto foi divulgado logo após uma reunião entre o secretário e o comandante da Polícia Militar, Benedito Roberto Meira, para discutir a forma como a polícia deve lidar com o fenômeno que tem surpreendido as autoridades, como ocorreu nas manifestações de junho passado.

A repressão violenta por parte da PM num dos primeiros protestos acabou fomentando ainda mais as manifestações por todo o país.

CONVERSA

De acordo com Netinho, a reunião com os adolescentes só vai ocorrer após a conversa com os shoppings, programada para semana que vem.

"Estamos buscando um entendimento entre as administrações dos shoppings e os meninos", afirmou. "Eles querem frequentar os shoppings como qualquer cidadão paulistano. Eu acho que é possível isso acontecer."

Uma das soluções sugeridas por Netinho seria o uso dos estacionamentos dos shoppings para os encontros.

Organizadores de "rolezinhos" contaram à reportagem que foram surpreendidos por funcionários da prefeitura na porta de suas casas na manhã de ontem.

"Vamos conversar com o Haddad para dar uma ajeitada nos eventos e mudar de lugares privados para lugares públicos", contou o estudante Rafael Paixão, 17, um dos organizadores do "rolezinho" marcado para o dia 24 (sábado) no shopping Aricanduva.

Segundo o secretário Netinho, os jovens inicialmente demonstraram resistência pelo fato de os encontros acontecerem na prefeitura, mas depois entenderam.

Colaborou ROGÉRIO PAGNAN


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