Folha de S. Paulo


Secretário não descarta participação de PMs em chacina, mas defende instituição

O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, saiu em defesa da Polícia Militar na tarde desta terça-feira (13), mas não descartou a possibilidade de que PMs estejam envolvidos com as chacinas que deixaram 12 mortos em Campinas (a 93 km de São Paulo).

"Uma instituição como a Polícia Militar tem relevantes serviços prestados à comunidade e tem cerca de 90 mil homens em suas fileiras. Portanto, uma instituição com esse tamanho pode ter eventualmente algumas pessoas que tenham desvios", disse Vieira.

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A série de ataques que fez 12 vítimas ocorreu entre a noite de domingo (12) e a madrugada de ontem na região do Ouro Verde, periferia de Campinas. Horas antes, um policial militar em horário de folga foi morto ao reagir a um assalto em um posto de gasolina na mesma região. Por conta disso, amigos e familiares das vítimas apontam a PM como autora dos crimes.

Segundo Vieria, ainda "não há uma linha de investigação mais forte". "É muito cedo ainda para termos qualquer definição. Todas as hipóteses serão investigadas. No tocante à Polícia Militar, é muito cedo para fazer qualquer afirmação", completou.

O secretário da Segurança Pública esteve na cidade para acompanhar as investigações e se reunir com a cúpula das polícias locais. Durante entrevista coletiva, Vieira reafirmou diversas vezes que a imagem da PM não deve ser maculada caso fique provado a culpa de alguns policiais.

De acordo com o secretário, está sendo investigado se, entre os mortos nos ataques, estavam os autores do latrocínio que vitimou o PM no posto de gasolina.

LOCAIS DOS CRIMES

Questionado sobre os motivos de a PM supostamente não ter feito a preservação dos locais dos crimes até a chegada da Polícia Civil, tarefa que coube à Guarda Municipal, Vieira disse que apura essa informação -revelada na edição impressa de hoje da Folha.

"Esse fato também é objeto da investigação. Deve ser esclarecido no mesmo inquérito, para que, se ele for confirmado, possamos aí tomar providências. Mas eu queria mais uma vez reafirmar os relevantes serviços prestados pela PM", respondeu o secretário.

Vieira assumiu a secretaria em novembro de 2012, em meio a uma crise causada por ataques em São Paulo semelhantes, no modo de execução, aos que ocorreram em Campinas. Perguntado se isso põe em risco seu cargo, o secretário afirmou que não.

"Eu tenho compromisso com o esclarecimento de todos os casos, sejam de que natureza for. Eu posso até adiantar que a cidade de Campinas vai apresentar uma redução de homicídios de cerca de 5%", disse.

OUVIDOR DAS POLÍCIAS

Recém-nomeado para o cargo de ouvidor das polícias Civil e Militar do Estado, o advogado Júlio César Fernandes Neves esteve em Campinas na manhã de hoje para acompanhar o enterro das vítimas das chacinas.

Segundo Neves, testemunhas lhe contaram que viram um policial militar à paisana na noite do crime rondando o parque Vista Alegre, onde ocorreu a última morte. Para o ouvidor, "existem indícios" da participação da PM nas mortes.

Neves disse que cabe ao ouvidor acompanhar as investigações, receber eventuais denúncias e acionar o Ministério Público caso perceba que há falhas nos procedimentos devido ao corporativismo.

Editoria de Arte/Folhapress

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