Folha de S. Paulo


Justiça decide que 'beach clubs' de Florianópolis terão de fechar

Às vésperas das festas de fim de ano, uma polêmica que envolve bares, meio ambiente e turistas endinheirados atravessa a praia de Jurerê Internacional, uma das mais famosas de Florianópolis. Uma guerra judicial pode forçar cinco "beach clubs" –mistos de bar, balada e restaurante VIP que funcionam de frente para o mar– a passarem seu primeiro Réveillon de portas fechadas.

Os clubes tentam reverter uma decisão da Justiça Federal de SC que determinou a suspensão de todos os alvarás –e, em seguida, a interdição imediata dos estabelecimentos, famosos por receberem celebridades no verão.

Justiça suspende liminar que interditava 'beach clubs' de Jurerê

O prazo para o fechamento termina na terça-feira (24). Em caso de descumprimento, a multa prevista é de R$ 1 milhão.

A ação, em pedido liminar, é de autoria da Ajin (Associação dos Moradores de Jurerê Internacional), que afirma que os clubes impedem o acesso público a parte da praia e ocupam uma área de preservação permanente –o que é proibido.

Na lista, estão Taikô e Cafe de La Musique, conhecidos por festas com DJs internacionais, além de Donna, Simple on the Beach e o recém-instalado Kioske do Pirata.

Para a associação, os clubes também prejudicam o sossego dos moradores. "Até 2005 tinha um barzinho, coisa pequena. E aí virou clube de praia. Agora é 'tunti-tunti' o dia inteiro", diz o presidente da Ajin, João Bergamasco.

Segundo ele, a disputa começou em 2008, mas foi parar nos tribunais com força neste ano –quando o Ministério Público Federal pediu a demolição das estruturas. "Assim como aconteceu na praia Brava. Não entendo porque ali teria que ser diferente", afirmou o procurador Walmor Alves Moreira à Folha no fim de novembro.

ADEUS, RÉVEILLON

Do outro lado da polêmica, os clubes dizem que têm todas as autorizações para operar e que obedecem a um acordo com a prefeitura –que limita o som até as 22h.

Segundo os proprietários, o fechamento dos beach clubs deve causar um dano "irreversível". "Temos quase mil ingressos vendidos para o Réveillon, uma grande parte para pessoas de fora, que pagaram até pacotes turísticos para isso", diz Leandro Adegas, do Taikô.

Ele teme ter de demitir todos os funcionários -68, ao todo. "E o que eu faço com o estoque que comprei? E com os contratos de limpeza, segurança, montagem e desmontagem, que envolvem mais de 500 pessoas? O impacto econômico é muito forte."

"Isso foi um crime. Estão fazendo terrorismo com essa liminar", diz Mário Duarte, do Kioske do Pirata, para quem a interdição pode ter efeitos também na praia. "Fizeram essa mesma coisa de tirar os clubes da [praia] Brava, que agora está abandonada, não tem banheiro, não tem segurança, nada."

Carlos Leite, diretor da Habitasul, empresa proprietária dos terrenos onde estão os clubes e responsável também pelo Simple on the beach, condena a decisão e diz que tem licença para os clubes ocuparem a área. "O que está havendo hoje é uma tentativa de releitura, na ótica de 2013, daquilo que foi construído há 30 anos. Era permitido fazer daquele jeito", afirma.

Os clubes Donna e Cafe de La Musique, também afetados pela ação, dizem que não vão se pronunciar.

Responsável por executar a interdição, a Prefeitura de Florianópolis afirma que irá cumprir a decisão, mas aguarda o julgamento do recurso interposto pelos bares.

DISCUSSÃO À BEIRA-MAR

Turistas e moradores se dividem sobre a polêmica. "O verão não vai mais ser o mesmo. Vai descaracterizar o bairro", reclama a consultora Valquíria Bassedone, 39, que trabalha na região.

"É o charme da praia", completa o estudante Diego da Luz, 28, enquanto se preparava para entrar no mar e voltar para a área em frente ao Taikô.

Já o vendedor Edio Antunes da Silva, 25, diz desconfiar que os beach clubs são um "mal necessário" por já serem parte da "cultura turística" de Florianópolis. Mas faz críticas. "Hoje, vem muita gente. E não tem infraestrutura para isso."

Opinião semelhante tem o taxista José Luiz Oliveira, 56. "A cada ano que passa, tem menos espaço para o turista, e o deles está ali, guardadinho", afirma.


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