Folha de S. Paulo


'Souvenirs de luxo' que não podem voar, últimos quatro aviões da Vasp vão a leilão

"Não me fale em crise, somente em trabalho e soluções". As frases do empresário Lemos Britto estão em um quadro na sala de reuniões da sede da Vasp, em São Paulo.

O local foi escolhido para o anúncio da falência da empresa, em 2008, para os cerca de 400 funcionários que trabalhavam no prédio.

Hoje, os últimos quatro aviões da Vasp, três Boeings 737-200 e um Airbus A300, poderão ser adquiridos por propostas entregues até as 14h na 1ª Vara de Falências do fórum João Mendes, em São Paulo. As aeronaves têm preços mínimos entre R$ 28 mil e R$ 60 mil, mas não podem mais ser usadas em voos.

Com uma dívida de mais de R$ 5 bilhões, a história da Vasp se dilui entre os que compram, como souvenirs, o que resta de seu patrimônio.

Pouco mudou na sede da empresa, um prédio-fantasma ao lado do aeroporto de Congonhas, na zona sul da cidade, desde o fim da companhia. A impressão é que o local foi esvaziado após um aviso de bombardeio: computadores, recados e documentos continuam nas salas, como se o tempo não tivesse passado.

"Foi um chororô no dia", diz Antônio José dos Santos Coelho, 42, coordenador de segurança do prédio e funcionário da Vasp desde 1997. Coelho ainda trabalha no local e ajuda na manutenção.

Segundo ele, a maior parte de seus colegas foi contratada por companhias aéreas depois do fim da Vasp. É o caso do comandante Marcos (nome fictício), 56, piloto na empresa por 17 anos.

Ele prefere se manter anônimo por medo de represálias da companhia onde trabalha. "A Vasp inha o melhor centro de treinamento e fazia uma manutenção que era referência mundial."

No começo dos anos 90, o empresário Wagner Canhedo adquiriu a Vasp. Marcos diz que não recebeu "um centavo" da dívida trabalhista da empresa (que ainda deve R$ 1,2 bilhão para cerca de 3.000 funcionários) e responsabiliza Canhedo pelos problemas da companhia aérea.

O ex-dono da Vasp foi preso em agosto por sonegação de impostos. Foi solto em setembro, após a dívida de aproximadamente R$ 1,2 milhão ser quitada na Justiça.

A antiga sala de Canhedo é hoje usada como depósito. Fora do prédio, em um galpão, está um simulador de voo que já virou sucata.

De acordo com Daniel Carnio Costa, juiz responsável pelo processo judicial da falência, os itens devem ser leiloados no começo de 2014.


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