Folha de S. Paulo


Após 5 anos, UPP reduz homicídios, mas contraria promessa

O projeto das UPPs completa cinco anos com redução de homicídios nas favelas ocupadas, mas com promessa eleitoral descumprida.

Bandeira da campanha da reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB), o programa entra em ano eleitoral como marca e vidraça na disputa ao Palácio Guanabara.

Análise: UPP trouxe ganhos, mas enfrenta agora incertezas

Acabar com o controle armado em todas as favelas até 2014 era promessa de Cabral. O governo agora planeja anunciar a instalação das unidades até 2020.

Inaugurada em dezembro de 2008, a UPP Dona Marta (zona sul) lançou a política que se tornou bandeira da primeira gestão de Cabral.

Após a instalação de 36 UPPs, o Estado registrou queda de 65% nos homicídios em 22 das favelas atendidas pelo programa --nas demais não é possível tal comparação.

Mas algumas unidades sofreram neste ano ataques de traficantes armados, mesmo em áreas que não eram mais consideradas problemáticas, como Chapéu Mangueira e Pavão Pavãozinho (zona sul).

Apesar das denúncias de moradores, a coordenação das UPPs nega os problemas.

Na sabatina da Folha/UOL, em agosto de 2010, ao ser questionado sobre quando a favela da Rocinha seria pacificada --o que só ocorreu em 2012--, o peemedebista fez o compromisso.

"Não posso dizer se vai ser no mês tal do ano que vem. Posso garantir que termino o meu governo com todas as comunidades pacificadas. Quando eu digo todas... Todas que estiverem controladas...", disse ele.

Veja Cabral na sabatina em 2010:

Veja vídeo

As UPPs seguem concentradas na capital, nas zonas sul, norte e centro. Conflitos entre facções têm ocorrido em favelas como Serrinha (zona norte) e Covanca (zona oeste). Criminosos têm atuado até em áreas com UPP, como a Rocinha e Vila Cruzeiro.

O governo do Estado, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que a gestão ainda não acabou, motivo pelo qual "não há como falar de não cumprimento de meta".

De acordo com a Prefeitura do Rio, há na capital 625 favelas --não há número preciso para os demais municípios. Em cinco anos, as UPPs atingiram 252 territórios.

A meta para 2014 se tornou um plano para 2020 anunciado pelo vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), escolhido por Cabral para disputar sua sucessão.

"Vamos apresentar agora em janeiro um plano de ocupação até 2020, mostrando um cenário para a frente, que não é só para a Olimpíada", afirmou Pezão.

O governo afirma que o planejamento para 2020 é feito porque a administração "trata a pacificação como política de Estado".

Daniel Marenco/Folhapress
Vista de praça no morro Dona Marta, no Rio, o primeiro a receber uma unidade pacificadora
Vista de praça no morro Dona Marta, no Rio, o primeiro a receber uma unidade pacificadora

NOVA CONTA

O governo divulga agora como meta instalar 40 UPPs. Para atingir o número, passou a contabilizar como unidades independentes bases instaladas em uma só área.

Assim, enquanto na conta inicial o Complexo do Alemão representava só uma UPP, com alguns postos policiais, a nova versão contou cada base como uma unidade. Ao todo, são quatro. O mesmo ocorre na Vila Cruzeiro.

Assediado para ser vice, o secretário José Mariano Beltrame (Segurança) recusou o convite, mas garantiu sua permanência à frente da pasta, caso o peemedebista seja eleito. A manobra indica o peso político que o tema tem.

Os principais adversários, Lindbergh Farias (PT) e Anthony Garotinho (PR), pretendem criticar a falta de unidades na região metropolitana.

Em razão dos problemas enfrentados pelas UPPs nos últimos meses --entre eles, o desaparecimento do morador da Rocinha Amarildo de Souza, em julho-- a Segurança decidiu interromper as inaugurações. A próxima deve ser anunciada após abril.

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: