Folha de S. Paulo


Controlada por Haddad, CPI 'esquece' ônibus e mira PSDB

Formada em sua maioria por vereadores da base aliada do prefeito Fernando Haddad (PT), a CPI dos Transportes na Câmara deixou de lado a "caixa preta" dos custos dos ônibus na cidade e mirou as empresas suspeitas de fraudes em licitações de trens de gestões tucanas no Estado.

Com isso, acabou ouvindo só 1 das 15 empresas de ônibus da capital, mas sete fornecedoras de peças e serviços do sistema sobre trilhos.

Outro lado: Presidente de CPI nega uso político e diz seguir plano original

O maior grupo de ônibus da cidade, liderado pela família Ruas, que controla mais de metade da frota paulistana, não foi interrogado. E nenhum dono de viação será ouvido até o fim dos trabalhos.

A comissão foi criada há cinco meses, no calor dos protestos contra o reajuste das tarifas. No início, a base governista tentou barrá-la --dois dias antes, o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, disse que ela serviria para "achacar" empresários.

Após articulação, o PT fechou acordo para indicar a maioria dos membros. A CPI foi chamada de "chapa branca" por ter só um oposicionista, Eduardo Tuma (PSDB).

A CPI sugerida pela oposição pedia investigação apenas no transporte municipal.

Editoria de Arte/Folhapress

Assim que assumiu, a base aliada ampliou a apuração para ouvir as empresas do Estado, sob o argumento de que o sistema é integrado.

O relatório final da investigação será entregue só no ano que vem e deve constatar apenas que as planilhas de custo das empresas devem ser revistas, sem identificar eventuais prejuízos ao município.
Tuma disse que pretende fazer um relatório paralelo.

Nos últimos dois meses, a comissão se dedicou a ouvir empresas envolvidas na denúncia de formação de um cartel instalado nas gestões do PSDB no governo estadual.

Ou seja, o que foi criado para apurar a "caixa preta" do sistema municipal --se os investimentos da prefeitura são revertidos para a população, se os lucros das viações são corretos, entre outros pontos-- acabou mirando um esquema de corrupção que envolve o maior opositor do PT.

"Se fosse na Assembleia, isso teria sido barrado, porque a base de apoio de [Geraldo] Alckmin não deixaria. Não querem apurar o 'tremsalão'", disse Paulo Fiorilo (PT), presidente da comissão, que nega haver viés político.

De junho para cá, a CPI ouviu representantes de 25 empresas ou entidades da área de transporte. Dessas, 13 atuam no sistema estadual.

A única viação a depor foi a Mobibrasil, há cinco anos no sistema. Não foram ouvidos empresários que atuam há décadas na cidade e controlam a maior parte da frota --como José Ruas Vaz, Carlos de Abreu e Belarmino Marta.

Nem o descredenciamento de duas viações foi suficiente para suas convocações.


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