Folha de S. Paulo


50 empresas suspeitas de envolvimento na máfia do ISS são identificadas

O Ministério Público de São Paulo já conseguiu identificar cerca de 50 empresas suspeitas de pagamento de propina à chamada máfia do ISS para obtenção irregular de desconto no imposto.

Os promotores chegaram aos supostos corruptores após cruzar dados oficiais, fornecidos pela prefeitura, com uma planilha achada no computador apreendido com um dos auditores suspeitos.

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As datas e os valores citados no documento coincidem exatamente, até os centavos, com as informações oficiais de beneficiados.

Isso explica a afirmação do promotor Roberto Bodini quando disse que "os documentos falam por si".

Os nomes estão sendo mantidos em sigilo, para não atrapalhar as investigações, mas a Folha apurou que entre eles há grandes construtoras, ao menos um shopping e até um hospital.

A planilha estava em um computador do auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães, apontado como membro da quadrilha responsável pelo contato com as empresas e recolhimento da propina.

Nessa documentação estão 410 supostos beneficiários do esquema. Para a Promotoria, esse número poderá ser muito maior, pois a relação foi encontrada em único computador e ainda existem outros a serem analisados.

Outro fato que reforça essa tese é a lista referir-se a apenas 16 meses. Os auditores já confessaram, em acordo de delação premiada, que o esquema ocorreu ao menos desde 2005.

Até agora, o Ministério Público tinha identificado poucas empresas com base na confissão do grupo: BKO, Tarjab, Tecnisa, Trisul, Alimonti, Company, e Brookfield.

A Brookfield admite ter pago R$ 4 milhões de propina, mas alega que era vítima.

As outras empresas negam envolvimento com a máfia.

POLÍCIA

A relação de empresas suspeitas deve ser repassada à Polícia Civil na segunda-feira, após uma reunião entre o promotor Roberto Bodini e o secretário da Segurança, Fernando Grella Vieira.

Nesse dia, serão acertados os detalhes dessa participação, mas, em princípio, dois delegados deverão ser designados. "Veremos como eles poderão ajudar o Ministério Público", disse Bodini.

Assim, a polícia poderá abrir 410 inquéritos para investigar os supostos corruptores. Mas o número pode ser menor, já que a lista pode trazer um mesmo nome beneficiado mais de uma vez.

Essa reunião entre Promotoria e Segurança Pública ocorre após um mal-estar criado durante a investigação sobre a máfia do ISS.

Conforme a Folha revelou, a Polícia Civil abriu ao menos 12 investigações paralelas para apurar o caso após a prefeitura não repassar dados sobre os servidores suspeitos de enriquecimento ilícito.

Entre os alvos dos inquéritos estão as empresas citadas pela Promotoria. A situação desses inquéritos também será discutida na segunda.

Questionado, Bodini disse desconhecer oficialmente a existência de inquéritos.


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