Folha de S. Paulo


Pedreiro diz ter alertado sobre vigas e rachaduras em prédio que desabou

Operários do prédio de cinco andares que desabou anteontem em Guarulhos (Grande SP) dizem ter identificado sinais de problemas na obra --como vigas trincadas, envergadas e rachaduras-- e dado alerta aos responsáveis.

"A gente avisava nosso encarregado [de obras]. Mas eles só mandavam ajeitar, diziam que era normal. As rachaduras também: 'enche de massa que é normal'", afirmou Raimundo da Luz Cardoso, 26, que dormia diariamente no alojamento da obra com um pedreiro que continuava ontem desaparecido.

Construtora de edifício que desabou tem sede em padaria

Cardoso escapou do desabamento porque saiu para comprar um lanche para ele e Edmilson Santos, 24.

Segundo colegas, Santos tomava banho quando a construção começou a ruir. Ele ainda era procurado ontem sob os escombros.

Além de Cardoso, outros dois pedreiros confirmaram haver rachaduras que os preocupavam. Um terceiro dizia haver solo "mole".

O operador de máquinas Leonardo Rocha, afirmou à TV UOL que Santos se queixava de problemas na construção. A obra estava regular, segundo a prefeitura.

"Sempre falávamos para os encarregados que havia rachaduras. Eles sempre pediam para restaurar, mas no dia seguinte aparecia de novo", disse Edivaldo dos Santos, 36, irmão do operário desaparecido e que também já havia trabalhado na obra.

"Estava trincando a parede. Todo mundo falou que esse prédio uma hora iria cair", afirmou o operário André Santana à "TV Globo".

Maurício Monteagudo, advogado da construtora, disse achar pouco provável que houvesse rachaduras.

INSPEÇÃO

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou uma proposta que estabelece normas para inspeção de todos os edifícios do país.

A proposta foi aprovada ontem em caráter terminativo e, se não receber recurso em cinco dias, seguirá para votação no Senado.

Pelo projeto, edifícios residenciais, comerciais e prédios públicos com até 20 anos terão que passar por inspeção do estado geral de solidez e funcionalidade a cada cinco anos. Já imóveis mais antigos deverão ser analisados a cada três anos.

O responsável pela edificação deverá contratar engenheiro para fazer as avaliações. As medidas não terão efeito para unidades de até dois andares. (RICARDO BUNDUKY, CÉSAR ROSATI, GIBA BERGAMIM JR., FABRÍCIO LOBEL E ANDRÉ MONTEIRO)


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