Folha de S. Paulo


Haddad é vaiado durante discurso em evento no centro de São Paulo

Após o reajuste do IPTU e as investigações sobre a Máfia do ISS, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ouviu nesta quarta-feira (20) suas primeiras vaias em evento público. Foi hostilizado durante pronunciamento na festa em comemoração ao Dia da Consciência Negra.

Latinhas de cerveja foram jogadas contra o petista enquanto ele discursava no vale do Anhangabaú, no centro. Uma passou bem perto de sua perna. Segundo a assessoria, Haddad, que seguiu com o discurso, não foi atingido.

"Não deixo de falar quando a população está vaiando porque, se você deixar de falar quando vaiam, você vai ficar envaidecido quando te aplaudirem", disse.

Haddad disse que ouviu reclamações parecidas quando era ministro da Educação.

"Quando criei o Prouni [Programa Universidade para Todos], também ouvia esse tipo de reclamação."

"Quando nós levamos as cotas para o Congresso Nacional, nós também ouvimos, mas nós não recuamos. Tínhamos 4% de pretos e pardos na universidade, passamos para 20%, graças ao governo Lula e ao governo Dilma", disse, quando latas atingiram o palco.

Antes dele, o secretário da Igualdade Racial, Netinho de Paula (PC do B), também foi vaiado. Enquanto o prefeito discursava, Netinho pedia para que os manifestantes parassem as vaias. O prefeito disse que "ninguém teve coragem de criar tal secretaria".

O comerciário Norberto Dias, 55, foi um dos que vaiaram Haddad. Ele lembrou do grupo de sem-teto removido no sábado de terreno sob a ponte Orestes Quércia, na marginal Tietê.

"O povo da Estaiadinha está na rua, com criança no colo, e o prefeito não faz nada. Ele não sabe o que é consciência negra", afirmou.

O conferente Rodrigo Santos, 30, defendeu Haddad. "Não é só criticar. Tem muita gente desligada da realidade, que só vem para vaiar."

Adriano Vizoni/Folhapress
Fernando Haddad (dir.), durante evento no Vale do Anhagabau, em SP, em comemoracao ao Dia da Consciencia Negra
Fernando Haddad (à dir.), durante evento no Vale do Anhagabau, em SP, em comemoracao ao Dia da Consciencia Negra

IPTU

O prefeito associou as vaias à "desinformação" sobre o reajuste do IPTU. "Estão achando que o IPTU na periferia vai subir, mas, como a população está muito desinformada, na hora que chegar o carnê tudo muda", disse.

"Se precisamos cobrar um pouquinho mais de IPTU de quem tem muito para levar para quem tem pouco, não vamos nos intimidar." Haddad disse ainda que "a reação é natural porque este é o ano dos protestos".

A vaia ocorre não só após a alta do imposto, mas também depois da demissão do braço direito de Haddad, Antonio Donato. O ex-secretário de Governo passou a ser investigado após um envolvido na máfia do ISS dizer que lhe pagava mesada de R$ 20 mil quando ele era vereador.

Antes de subir ao palco, o prefeito citou a importância da data. "É a cidade com mais afrodescendentes."

Colaborou WILLIAN CARDOSO, do "Agora"


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