Folha de S. Paulo


Sul-africanas já lideram casos de estrangeiras presas em SP

As sul-africanas passaram a ser a maior população carcerária estrangeira de São Paulo. Já são 69 mulheres da África do Sul em presídios no Estado, ultrapassando as bolivianas (61) e angolanas (59), segundo levantamento do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, que trabalha com prisioneiras estrangeiras.

A intensificação do tráfico de cocaína via Johannesburgo, com traficantes nigerianos usando mulheres da África do Sul como "mulas", levou a uma multiplicação das sul-africanas nas prisões.

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De acordo com a advogada Michael Nolan, presidente do ITTC, 95% das estrangeiras presas no país cumprem pena por tráfico. A maioria é de mães solteiras, com filhos pequenos, e há um grande número de soropositivas.

Elas recebem em média US$ 5.000 (cerca de R$ 11.600) para transportar cocaína vinda da Bolívia, Peru e Colômbia para a África do Sul. De lá, a droga vai para a Europa. As mulheres levam a droga escondida nas roupas íntimas, na bagagem, ou engolem as cápsulas.

"Antes, eram sempre angolanas e bolivianas; neste ano, pela primeira vez, sul-africanas são o maior grupo", diz Nolan, que acompanha presas estrangeiras desde 1997.

Segundo a Polícia Federal, entre janeiro e outubro deste ano foram presas 224 "mulas" no Aeroporto de Guarulhos, com mais de 1 tonelada de cocaína. Ainda segundo a PF, a intensificação na rota para os países africanos ocorreu em detrimento de países europeus, e hoje 40% das mulas presas são africanas.

Nos voos para Johannesburgo, é comum a polícia perguntar à tripulação quais os passageiros que não comeram nada durante o voo (que é longo, de 9 a 10 horas). Esses são considerados suspeitos de terem engolido drogas e são levados para hospitais para exames.

De acordo com Nolan, 95% das estrangeiras estão na prisão por tráfico. Os traficantes que as aliciam normalmente são nigerianos.

Entre 2005 e 2012, o número de presos no sistema penitenciário nacional dobrou, de 29.4237 para 54.8000 (o que corresponde a alta de 120%).

Mas o número de presas estrangeiras mais que triplicou, de 238 para 774 (225%). Os presos estrangeiros passaram de 1.191 para 2.510 (110%).

Neste ano, os dados ainda não foram divulgados pelo Ministério da Justiça, mas fontes ouvidas pela Folha na PF e na polícia sul-africana dizem que houve aumento de mais de 50% das apreensões no aeroporto de Johannesburgo.

As polícias dos dois países estão colaborando. Na África do Sul, há cerca de 40 brasileiros presos.

Editoria de Arte/Folhapress

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