O ministro da Saúde de Cuba, Roberto Morales Ojeda, minimizou as críticas feitas por entidades médicas brasileiras ao convênio firmado entre os governos da ilha e do Brasil para executar o programa Mais Médicos.
Ao visitar um posto de saúde em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife, ao lado do ministro brasileiro Alexandre Padilha (Saúde), Morales afirmou que o que existe entre o governo dos dois países é uma "colaboração" e não uma "exportação de serviços".
"Não falamos em exportação de serviço. Falamos em colaboração, integração", afirmou, antes de citar Fidel Castro, ex-chefe do governo cubano.
"Como diria o líder histórico de nossa revolução, comandante Fidel Castro, somente se poderá salvar a humanidade da morte com a paz e a colaboração. O que estamos fazendo é colaborar", disse Morales.
Essa é a primeira vez que o ministro cubano rebate as críticas feitas por entidades médicas por causa do tratamento diferenciado dado aos médicos de Cuba.
Enquanto os profissionais do Mais Médicos provenientes de outros países recebem integralmente a bolsa mensal de R$ 10 mil e ainda podem trazer seus familiares para o Brasil, os cubanos não podem trazer parentes e recebem somente entre R$ 800 e R$ 900 por mês.
O restante da bolsa é distribuído entre a família do profissional e o governo de Cuba, que fica com a maior parte do dinheiro.
Morales defendeu o princípio do "internacionalismo proletário" para justificar os termos do acordo com o Brasil. "Não estamos realizando uma contratação individual de médicos. No caso de Cuba, é um convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde [Opas] e com o Ministério da Saúde do Brasil", afirmou.
"Cada um deles [médicos cubanos no Brasil] tem um emprego em Cuba, tem um centro de trabalho, um salário, um seguro social garantido, saúde para a família e para eles totalmente gratuita, tem educação totalmente gratuita e o Ministério da Saúde do governo cubano cuida da família dele e dá atenção a cada problema que surja no decorrer dessa missão", disse o ministro.
Segundo Morales, Cuba tem atualmente missões internacionais em 60 países, onde trabalham 45 mil "colaboradores", como se referiu aos médicos.
De acordo com o Ministério da Saúde, 3.663 médicos já estão em atividade no país pelo Mais Médicos, dos quais 2.400 são cubanos.
A meta do programa é chegar a 13 mil profissionais até março de 2014.
POLÍTICA DE CURTO PRAZO
Para a diretora da Opas, Carissa Etienne, o Mais Médicos é apenas uma política de curto prazo e que é preciso "muito mais" para alcançar a universalização da saúde no país.
"Não acredito que essa seja a única resposta para conseguir uma cobertura universal. A curto prazo, você tem médicos para a comunidade que não tinha nenhum médico. Mas, ao mesmo tempo, é preciso muito mais para ter uma cobertura universal", afirmou.
"No Brasil, esse é apenas um começo, uma intervenção de curto prazo em que o Brasil desenvolva suas equipes médicas, seus médicos e outros trabalhadores de saúde, para se certificar de que eles possam atender as necessidades da população", disse.
Carissa Etienne disse não ter visto em outros países críticas tão severas à vinda de médicos cubanos como houve no Brasil. No entanto, ela afirmou que as considerações feitas principalmente por entidades médicas são positivas.
"Houve algumas críticas ao programa, mas acredito que isso é bom. Significa que as pessoas estão preocupadas com a saúde e com a entrega da saúde no seu país", afirmou.
A diretora disse acreditar que o tratamento dispensado por Cuba a seus profissionais não fere regras internacionais de trabalho e de direitos humanos. "É a forma como Cuba trabalha", afirmou. "Cuba tem enviado médicos para o mundo todo."