Mais dois auditores fiscais da Prefeitura de São Paulo são sócios das lotéricas investigadas por suspeita de serem usadas para lavagem de dinheiro do esquema que teria desviado R$ 500 milhões dos cofres públicos.
As lotéricas foram compradas em 2011 por auditores já presos --Luis Alexandre Cardoso de Magalhães e Carlos Augusto di Lallo do Amaral-- e têm ainda dois donos que também exercem a mesma função na prefeitura.
Uma delas foi comprada por Magalhães e Amaral em abril de 2011. Ela fica no shopping West Plaza, na Barra Funda, zona oeste paulistana. O capital da empresa é de R$ 400 mil.
Na mesma data, os registros oficiais apontam que passam a figurar como sócios os auditores fiscais William de Oliveira Deiro Costa e Gustavo Mendonça Felipe da Silva, colegas de trabalho da dupla.
O segundo negócio é fechado um mês depois. Em maio de 2011, os quatro adquirem mais uma lotérica no shopping Paulista (região central de SP), com um capital declarado de R$ 40 mil.
Procurada na tarde de sexta-feira, a Prefeitura de São Paulo disse as investigações são sigilosas.
Porém, a Folha apurou que os dois novos nomes estão numa lista de outros servidores investigados.
O auditor Silva afirmou que deixou a sociedade logo após a assinatura do contrato.
A Promotoria decidiu focar as investigações nas lotéricas porque a compra de bilhetes premiados é uma das formas mais comuns de lavagem de dinheiro, segundo o Coaf (órgão de inteligência do Ministério da Fazenda).
Há ainda um outro elo entre as duas empresas. Uma irmã de Deiro Costa, a advogada Fernanda de Oliveira Deiro Costa, aparece como administradora das duas casas lotéricas, desde a compra pelo grupo de auditores fiscais.
Como são todos servidores públicos, eles não poderiam atuar como diretores. Assim, foi preciso indicar a advogada como a administradora dos estabelecimentos.
PROFISSÃO
Um outro detalhe no registro das empresas que chama atenção é que nenhum dos quatro sócios declara como profissão auditor fiscal, o que por si só não é irregular.
Magalhães coloca no registro que é "construtor". Lallo do Amaral aparece como "administrador".
OUTRO LADO
O auditor fiscal Gustavo Mendonça Felipe da Silva, que aparece como sócio das duas lotéricas, diz que deixou a sociedade logo depois de assinar o contrato.
Ele disse que jamais participou de esquema de desvio de verbas ou movimentação suspeita de seus colegas.
"Eu entrei numa roubada", disse. Silva afirmou ainda que vai procurar espontaneamente a Controladoria para explicar sua situação na sociedade.
Afirmou que seus dados ainda constam do registro oficial porque assinou um contrato de gaveta transferindo as cotas das lotéricas, mas a operação não foi efetivada.
A Folha procurou William de Oliveira Deiro Costa, mas não conseguiu localizá-lo. A reportagem deixou recado em cinco telefones em seu nome, mas não teve resposta.