Folha de S. Paulo


Sem globais, ato reúne cerca de 500 contra 'prisões políticas' no Rio

Uma manifestação que contou com o apoio de artistas globais em sua convocação, mas que não teve a presença deles nas ruas, percorreu o centro do Rio no fim da tarde desta quinta (31) para defender o direito de protestar e pedir liberdade para os manifestantes presos. A passeata terminou pacificamente

Chamado de Grito da Liberdade, o ato tinha uma lista de dez reivindicações: fim das prisões políticas, anistia aos processados e presos políticos, garantia do direito à livre manifestação, fim da violência policial, desmilitarização da PM, fim da pacificação armada, investigação dos crimes cometidos pelas polícias militar e civil, democratização dos meios de comunicação, em defesa do Marco Civil da Internet e pela abertura de diálogo entre Estado e sociedade civil.

A passeata teve um vídeo de convocação do qual participaram Leandra Leal, Wagner Moura, Mariana Ximenes e outros artistas globais; dos que apareceram no vídeo, apenas o ator Luiz Henrique Nogueira, a atriz Tereza Seiblitz e o poeta Chacal acompanharam a marcha, que reuniu cerca de 500 pessoas.

Além de representantes do movimento Reage, Artista, que faziam performances pela rua, havia militantes do PSTU e da FIP (Frente Independente Popular), anarquistas, bombeiros e membros do Sindicato dos Petroleiros. Apenas alguns mascarados participaram do protesto, que foi embalado por músicos do bloco de carnaval Nada Deve Parecer Impossível de Mudar, ligado ao Psol.

O grupo se concentrou às 15h, em frente ao Tribunal de Justiça do Rio, no centro da cidade, e começou a se deslocar por volta das 16h45 em direção a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Ao passar pela igreja da Candelária, os manifestantes fizeram um breve ato lembrando os menores assassinados ali em 1993.

Cerca de 70 policiais militares acompanharam a marcha à distância, e pontos estratégicos do centro tinham mais PMs de prontidão. Houve um breve momento de tensão quando policiais começaram a fazer revistas, em frente à Candelária, mas a situação foi controlada.

Palavras de ordem eram puxadas pelo bloco carnavalesco, direcionadas principalmente ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e ao prefeito da capital, Eduardo Paes. Quando chegaram à avenida Rio Branco, os manifestantes calaram-se, usando mordaças pretas.

O silêncio era rompido por gritos que chamavam os nomes do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, 43, desaparecido na Rocinha desde o dia 14 de julho, e de Douglas Rodrigues, 17, assassinado no último domingo por um policial militar, em São Paulo.

Após cerca de três horas de caminhada sem incidentes, os manifestantes chegaram à Lapa, no centro do Rio, onde estão concentrados na praça em frente aos Arcos da Lapa.

Alguns deles subiram no alto dos arcos, onde antes passava o bondinho de Santa Teresa, e hastearam faixas. Uma delas pede a liberação de dois manifestantes presos: Baiano, no Rio, e Rafael, em São Paulo.

Cerca de uma hora após chegar à Lapa, a manifestação terminou. Grupos de manifestantes, contudo, decidiram seguir para a ocupação que ocorre na esquina do governador do Rio, Sérgio Cabral, no Leblon. Eles seguiram de ônibus e metrô. Não houve registros de conflitos ao longo do dia.

CONTRA VIOLÊNCIA POLICIA

Entre os participantes do ato estava o escritor João Paulo Cuenca. À Folha, ele afirmou que a classe artística demorou a se engajar nas manifestações e que, em um momento como o atual, seria criminoso ficar calado.

"É a polícia que inaugura a violência. Sou contra qualquer forma de violência, mas, hoje, no país, quem sofre a maior violência é a população civil, nas filas de hospitais e nos transportes públicos", disse Cuenca, que também criticou a maneira como os meios de comunicação abordam as manifestações.

"Em São Paulo, houve uma comoção grande da mídia em relação aos protestos na Fernão Dias, reportando ônibus incendiados e a estrada bloqueada. O que aconteceu ali foi que um cidadão foi assassinado pela polícia, e isso não teve repercussão tão grande quanto a manifestação que ocorreu por conta disso."


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