Folha de S. Paulo


20 detidos em protesto têm antecedentes criminais

Ao menos 20 detidos durante os violentos protestos de anteontem na Vila Medeiros, zona norte, tinham antecedentes criminais, informou a Polícia Civil de São Paulo.

Segundo a delegacia que investiga o caso, eles já tinham sido presos ou processados pela suspeita de terem cometido crimes como furto, roubo e tráfico de drogas.

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O dado chama a atenção se comparado ao perfil dos manifestantes adeptos à tática "black bloc" em protestos recentes na capital.

Na manifestação da última sexta-feira, em que "black blocs" espancaram um coronel da PM no centro, por exemplo, oito adultos foram presos e indiciados. Entre eles, não há registros de antecedentes criminais.

Na Vila Medeiros, ao todo 80 foram detidos por participação em atos de vandalismos durante os protestos.

Quase todos eles (ao menos 77) foram liberados por falta de provas, mesmo aqueles com outras passagens.

A polícia não conseguiu comprovar a participação deles nos atos de vandalismo, a chamada individualização da conduta, uma exigência da lei penal.

Apenas um dos detidos permanecia preso até a conclusão desta edição.

Trata-se de um homem detido numa casa no Jardim Brasil, bairro vizinho, com produtos supostamente roubados de um loja saqueada.

Dentro da casa onde estava o homem, cujo nome não foi divulgado, foram apreendidos celulares, roupas, relógios e uma TV. O dono do estabelecimento saqueado reconheceu os itens.

A PM divulgou ontem um saldo da destruição na Vila Medeiros: foram incendiados sete caminhões, três ônibus e outros dois veículos. Três agências bancárias, outros ônibus, carros e um caminhão foram depredados.

Um pedestre foi baleado no abdome. Ele passou por cirurgia no Hospital São Luiz Gonzaga e seu estado era estável no fim da noite.

MEDO

Traumatizada com as cenas de guerra da segunda-feira, a Vila Medeiros viveu ontem clima de ansiedade.

O receio dos moradores e do comércio era que se repetissem os protestos violentos.

No bairro proletário de casas simples, sem praças, clubes e áreas de lazer, circulava o boato de que os protestos aconteceriam durante sete dias, até a missa de sétimo dia do jovem morto.

Ontem, 90% do comercio do bairro baixou as portas depois do meio dia. As ruas ficaram vazias, fazendo lembrar um dia de domingo.

As escolas cancelaram as aulas do período da tarde e dispensaram os alunos.

Carros e motos da Policia Militar cercavam grupos de adolescentes que andavam a pé ou de bicicleta. E repetiam o padrão: mãos na cabeça, revista, checagem de antecedentes criminais.


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