Folha de S. Paulo


Clima continua tenso na zona norte de SP; PMs ocupam ruas da região

O clima permanece tenso na tarde desta terça-feira (29) nas regiões do Parque Novo Mundo e da Vila Medeiros, na zona norte de São Paulo.

Segundo a Polícia Militar, desde às 16h40 já não havia mais interdição na avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira, no Parque Novo Mundo, onde cerca de 150 manifestantes protestaram e bloquearam a via. O ato teve como motivo a morte de um adolescente, baleado por um PM, que diz ter reagido a um assalto durante a manhã. A versão do policial, porém, é contestada por moradores da região.

Nelson Antoine/Fotoarena/Folhapress
Moradores da região do parque Novo Mundo realizam protesto na avenida tenente Amaro Felicíssimo da Silveira
Moradores da região do Parque Novo Mundo realizam protesto na avenida tenente Amaro Felicíssimo da Silveira

Segundo a PM, por volta das 5h50, o soldado Henrique dirigia para o trabalho a partir de coordenadas do aparelho GPS, quando se perdeu e chegou a uma comunidade, na avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira. Ao manobrar o carro para retornar, foi abordado por criminosos que anunciaram um assalto.

Segundo a corporação, o PM tentou fugir, mas o adolescente de 17 anos, armado com um revólver calibre 32, disparou três vezes contra o veículo, atingindo o pára-brisa e saindo pela coluna da porta esquerda. O soldado então revidou com seis disparos, atingindo o menor, que morreu no local. Os outros criminosos fugiram.

Pouco depois, manifestantes e familiares do adolescente foram até uma transportadora numa rua próxima e impediram a saída de caminhões. Por volta das 11h30, um grupo atirou pedras contra um carro da PM, quebrando seus vidros, e atearam fogo em pneus e lixo, interditando a via.

O ato foi acompanhado pelo helicóptero Águia da PM, equipes da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) além da Rota (tropa de elite da PM). Muitos policiais ocupam as ruas para impedir novos focos de protesto e depredação.

VILA MEDEIROS

Perto dali, na Vila Medeiros, comércios se adiantaram em baixar as portas desde o início da tarde, temendo novos saques e atos de depredação.

Segundo a SPTrans, ônibus da viação Sambaíba que fazem as linhas 272N (Pq. Novo Mundo - Pq. Dom Pedro), 271M (Pq. Novo mundo - Metrô Santana), 271C (Pq. Vila Maria - Term. Princesa Isabel) e 2123 (Vila Medeiros - Metrô Liberdade) estão alterando os itinerários para evitar ruas da Vila Medeiros.

Ontem, a região teve uma noite de pânico. Os manifestantes também bloquearam a rodovia Fernão Dias. Ao todo, três caminhões e seis ônibus foram queimados pelo grupo, que também saqueou lojas e roubou motoristas. A Polícia Civil liberou hoje 35 pessoas que haviam sido detidas.

Segundo o delegado de plantão no 39º DP (Vila Gustavo), Bruno Guilherme de Jesus, pelo menos 20 delas tinham passagem pela polícia, a maioria por roubo, furto e tráfico de drogas. Entretanto, nenhuma teve a conduta individualizada e foram liberados.

No domingo, grupos também queimaram outros três ônibus e em um carro.

Marlene Bergamo/Folhapress
Comércios fecham as portas na Vila Medeiros; policiais fazem ronda pela região
Comércios fecharam as portas na Vila Medeiros nesta terça-feira (29); PMs fazem ronda na região

ADOLESCENTE MORTO

A onda de violência começou após o adolescente Douglas Rodrigues, 17, ser assassinado no domingo (27) por um policial militar na Vila Medeiros. A morte gerou uma série de protestos no bairro com veículos incendiados e saques, ainda na noite de domingo.

A mãe do rapaz, Rossana de Souza, afirmou que o filho não entendeu o motivo de ter sido atingido. Ela diz que o adolescente chegou a questionar o PM: "por que o senhor atirou em mim?"

De acordo com a família, o garoto trabalhava em uma lanchonete. "Ele não tinha preguiça de trabalhar. Ele estudava. Estava no terceiro ano", disse a mãe em entrevista à Rede Globo.

O PM que matou Douglas foi preso e encaminhado para o presídio militar Romão Gomes, também na zona norte. Segundo a PM, ele vai responder por homicídio culposo (sem intenção de matar).

A Polícia Militar informou, em nota, que PMs atendiam uma ocorrência de perturbação do sossego na rua Bacurizinho com a avenida Mendes da Rocha, quando suspeitaram de dois rapazes e decidiram abordá-los.

"Por motivo a esclarecer", continua a PM, houve um "disparo acidental" da arma de um dos policiais, que atingiu um adolescente de 17 anos no tórax. Ele foi levado ao hospital do Jaçanã, mas não resistiu ao ferimento e morreu.


Endereço da página: