Folha de S. Paulo


Não há indício de que jovem tenha encostado em coronel agredido, diz defesa

O advogado do universitário Paulo Henrique Santiago dos Santos, 22, Guilherme Braga, afirmou neste domingo que não existe "nenhum indício de que o jovem tenha encostado" no coronel da PM, Reynaldo Simões Rossi durante o protesto que ocorreu na última sexta-feira (25) na região central de São Paulo.

O coronel foi espancado por cerca de dez pessoas durante o ato na frente do Terminal Dom Pedro 2º, e teve a clavícula quebrada, além de cortes nas pernas e na cabeça. A maior parte dos agressores flagrados em fotos e vídeos estavam mascarados. Souza é o único preso até o momento pelo crime e foi indiciado por tentativa de homicídio.

"Em nenhum momento ele aparece agredindo nas fotos. O bolo da agressão estava no meio da manifestação então tinha um monte de gente por perto então no quadro das imagens aparece o rosto dele. E com isso, a polícia identificou ele como agressor. Mas em nenhum momento, aparece ele agredindo".

"Não existe nenhum indício de que meu cliente tenha encostado no policial. Existe apenas uma foto com ele próximo ao coronel. Essa situação beira ao absurdo. A gente está acostumado com muitos absurdos na polícia, mas essa situação é esdrúxula ao extremo", afirmou o advogado à Folha.

A defesa do jovem, que chamou a prisão de "esdrúxula ao extremo", entrou ontem (26) um pedido de liberdade provisória, mas foi negado pela Justiça. O advogado afirmou que entrará agora com uma pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça na segunda-feira.

Santos estuda relações internacionais na Faculdade Santa Marcelina e trabalha em uma empresa da região de Perdizes (zona oeste), conta Braga. "Ele é tranquilo, idealista e está totalmente assustado com essa situação. Ele perguntou do policial até mesmo porque ele estava naquela situação tentando apartar os ânimos".

Ontem, a polícia disse que o rapaz deverá ser transferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém na segunda-feira (28).

TENTATIVA DE HOMICÍDIO

A defesa de Santos também questiona o indiciamento do rapaz por tentativa de homicídio. Para o advogado, o caso se trata de lesão corporal.

"A agressão estava no meio da manifestação então tinha um monte de gente por perto, em nenhum momento ele aparece agredindo nas fotos. Mas ainda que a polícia entendesse que ele tivesse participado dos fatos, não há indício nenhum de que foi uma tentativa de homicídio", ressalta o advogado.

Ainda na avaliação da defesa, o jovem também não foi preso em flagrante, como registrou a polícia, e com isso ele não deveria permanecer preso. "Ele foi identificado nas fotos e a partir daí foram atrás e pegaram ele logo depois dos fatos", disse ele, que apontou seu cliente como sendo "bode expiatório".

Ontem a polícia afirmou que um fotógrafo de 22 anos também foi identificado como suspeito do crime. Ele prestou esclarecimentos à polícia e foi liberado em seguida por não haver provas do seu envolvimento no espancamento do coronel.

Além de Santos, outros sete adultos continuam presos após a manifestação e devem responder por crimes dano a patrimônio, roubo, associação criminosa, entre outros. Três adolescentes também foram apreendidos e foram encaminhados para a Fundação Casa.

Ao todo, 92 pessoas foram detidas durante o protesto. "Desses, cerca de 30 manifestantes já registram antecedentes e participação em outras ocasiões, principalmente, na área central e vão se complicando cada vez mais", afirmou Neto.

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CONFRONTO

A confusão começou por volta das 20h20 de sexta, quando os manifestantes invadiram o terminal e depredaram 18 caixas eletrônicos, dois ônibus e cinco cabines de venda de bilhete. A polícia respondeu com bombas. Telefones públicos ficaram destruídos e extintores de incêndio foram usados para quebrar vidros e cabines de venda de bilhete.

A agressão ao PM ocorreu na entrada do Terminal Dom Pedro 2º. Em meio ao tumulto, um grupo de mascarados cercou o comandante e passou a agredi-lo com socos e pontapés. Ele foi derrubado, mas conseguiu se levantar. Neste momento, um dos mascarados golpeou o policial na cabeça usando uma chapa de ferro.

O coronel foi socorrido por um policial do serviço reservado da PM, vestido como se fosse um manifestantes, que afastou os agressores com uma arma em punho. Amparado por colegas, ele andou até um carro da PM, que o levou para o Hospital Clínicas. A arma do policial foi roubada durante o ato.

Por volta das 21h, o grupo se dispersou por ruas da região, onde foram depredadas ao menos três agências bancárias, sendo elas dos bancos Safra, Santander e Itaú. A PM usava bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.

Esse foi o terceiro ato organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre) nesta semana na capital paulista. Os dois primeiros ocorreram nas regiões do Grajaú e do Campo Limpo (zona sul) e pediam melhorias no transporte local. O de ontem defendia o fim das passagens no transporte público e contra as mudanças nas linhas de ônibus.

O MPL foi o responsável pela onda de protestos ocorrida em junho e que causou a redução do preço da tarifa de ônibus em todo o país. Segundo o movimento, protestos em série ocorrem em outubro desde 2004, ano em que houve a "revolta da catraca", em Florianópolis, quando o MPL surgiu.


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