Folha de S. Paulo


Trajeto entre casa e trabalho é pior no Rio que na capital paulista

A fama é de São Paulo, mas, contrariando o senso comum, é no Rio que as pessoas perdem mais tempo para ir de casa ao trabalho.

Na região metropolitana, são gastos em média 47,3 minutos só no percurso de ida.

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Mas os paulistas não têm motivos para comemorar, já que levam 45,8 minutos no trajeto, em média.

Os cálculos foram feitos a partir de dados inéditos da Pnad 2012 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

A série da pesquisa mostra que, há dez anos, a média era de 42,3 minutos no Rio e 40,6 em São Paulo.

Nas duas maiores metrópoles do país, também cresceu a fatia de trabalhadores que perde mais de uma hora por dia no deslocamento.

Editoria de Arte/Folhapress

Em 2002, ambas tinham 21% dos trabalhadores nessa situação, índice que subiu para 27% no Rio e 24% em SP.

A pesquisa revela que as condições vêm piorando também nas outras metrópoles, com poucas exceções.

Em dez anos, a parcela de trabalhadores que diz gastar mais de uma hora no deslocamento diário cresceu 49%.

Em 2012, 19% dos trabalhadores das regiões metropolitanas estavam nesse grupo. No resto do país, apenas 5%.

Segundo especialistas, o tempo perdido no trânsito afeta a qualidade de vida da população e gera prejuízo.

No Rio, a Firjan (federação das indústrias) estima que os congestionamentos custam R$ 42 bilhões por ano, cálculo que leva em conta a renda que se deixa de ganhar e gastos em saúde, por exemplo.

A ampliação das zonas metropolitanas -porque o preço da terra expulsou os mais pobres ou porque os mais ricos buscam tranquilidade- explica parte do problema.

Para Orlando Strambi, professor de transporte urbano da Poli-USP, os moradores da Grande São Paulo estão evitando os deslocamentos e fazendo menos viagens, porém com distâncias maiores.

No Rio, o centro e a zona sul da capital formam o principal polo de empregos e serviços do Estado, o que leva uma massa de trabalhadores a se deslocarem todos os dias.

Outra parte da equação está no crescimento da frota em todo o país, sobretudo motos e carros particulares, que aumentou 122% em dez anos.

"A mobilidade não melhorou, então mostra que o carro não é solução. Não dá pra passar mais cem anos fazendo cidade só pro carro circular", diz Juciano Martins, do Observatório das Metrópoles.

A priorização do transporte público pode melhorar a situação no curto prazo.

Mas para reduzir os tempos de viagem, segundo especialistas, a solução são políticas urbanas que evitem os grandes deslocamentos, como levar a oferta de emprego mais perto da moradia.


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