Folha de S. Paulo


Música de Guerra nas Estrelas vira trilha sonora em quebra-quebra no Rio

Debaixo de chuva, pedras foram lançadas em todas as direções da avenida Rio Branco na noite desta segunda-feira (7) no centro do Rio. O barulho dos estilhaços de vidro e das bombas se misturava ao som de uma banda com três instrumentos de sopro, entre eles um trombone, que tocava a trilha sonora de Darth Vader, personagem que encarnava a força do mal na série Guerra nas Estrelas.

A cada ofensiva da Polícia Militar carioca com gás lacrimogêneo ou bombas de efeito moral, a banda voltava a executar a música de Vader.

Após noite de violência, terminam protestos no Rio e em SP

Mesmo quando a multidão iniciava uma correria desenfreada para escapar da reação policial, o grupo seguia tocando como se nada estivesse acontecendo a sua volta.

Como a Tropa de Choque hesitou inicialmente em reprimir o vandalismo, a banda apresentou um repertório mais animado, incluindo marchinhas de carnaval, enquanto os mascarados destruíam tudo ao redor.

A poucos metros dos músicos, o motorista Henrique Santos, Souza, 33, foi abordado ao tentar cruzar a Rio Branco no ônibus que seguia rumo ao ponto final, pouco antes das 21h.

"Desce do ônibus. Já era! Esse vai virar estatística", disse um mascarado, segundo relato de Souza à Folha. O motorista desceu e o ônibus foi empurrado até se chocar com um poste. Logo depois, o veículo acabou incendiado, sempre ao som da banda dos mascarados.

Rony Maltz
Manifestante toca tuba em quebra-quebra no centro do Rio
Manifestante toca tuba em quebra-quebra no centro do Rio

Após destruir o comércio ao redor da Cinelândia, os manifestantes seguiram pela avenida Presidente Wilson, endereço do Consulado Americano, alvo de dois coquetéis molotov. Naquele momento, o trânsito ainda era intenso nesta via, com dezenas de carros parados no farol prestes a cruzar a Rio Branco.

De repente, veio a invasão de mascarados correndo pelo meio da Presidente Wilson.

"Sai do ônibus. Sai agora!" gritavam os manifestantes para os passageiros. Quando a ordem era obedecida, imediatamente, eles começavam a depredar o veículo.

Os passageiros nos carros de passeio mais próximos entraram em pânico. Muitos tentavam dar ré, mas o trânsito intenso dificultava a fuga. A situação se agravou quando a polícia chegou ao local atirando bombas de efeito moral na direção dos manifestantes que passeavam entre os carros.

Com a ofensiva da PM, parte dos mascarados cruzou a pista expressa do Aterro Flamengo e fugiu em direção ao parque, onde está localizado o Museu de Arte Moderna do Rio.

Ainda na Rio Branco, um coquetel molotov foi lançado na sobreloja de edifício do Clube Militar dando início a um incêndio, que minutos depois acabou controlado.

Uma das entradas laterais do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara dos Vereadores, também chegou a ser atingida por coquetéis molotov atirados em sequência pelos mascarados. Eles ainda depredaram cinco ônibus e uma viatura da Guarda Municipal.

Ao menos 15 manifestantes foram detidos. Não havia registro oficial de feridos até a publicação desta reportagem.

APOIO AOS PROFESSORES

As cenas de vandalismo no centro da cidade voltaram a se repetir após os confrontos com a PM registrados no protesto dos educadores na semana passada.

Desta vez, sindicalistas, estudantes e representantes de movimentos sociais se juntaram aos professores na mobilização, que começou na Praça da Candelária e reuniu 10 mil pessoas, de acordo com a PM.

Já o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ), estimou que mais de 50 mil pessoas participaram da manifestação.

Os professores se revezavam no alto de um carro com críticas aos salários pagos por prefeitura e governo do Estado.

Numa alusão a um dos gritos de guerra do Bope, o grupo especial da PM do Rio, os grevistas repetiam ao microfone: "População na rua: qual é sua missão?". A multidão respondia: "Conquistar mais dinheiro para saúde e educação."

"Não sou professora, mas estou aqui para prestar meu apoio", disse a auxiliar administrativa Márcia Rodrigues, 30, moradora da Tijuca, na zona norte do Rio. Outra a defender a causa dos professores foi a atriz Thaila Ayala, que participou da manifestação usando um uniforme da rede municipal.

Agitando uma bandeira da Palestina, o funcionário público Célio Gomes, 54, saiu de Nova Iguaçu para participar do protesto.

"Já fui militante do PT, mas me engajei na causa da Palestina. Por isso, estou aqui para prestar apoio a minha filha que é professora e também à Palestina", explicou Gomes.

Boa parte dos professores, que estavam em maioria no protesto, criticava o plano de carreira da rede municipal elaborado pela prefeitura e aprovado recentemente pela Câmara Municipal do Rio.

Nesta terça-feira (8), o prefeito Eduardo Paes terá uma reunião com professores, funcionários e diretores das escolas da rede municipal de ensino no Palácio da Cidade, em Botafogo.


Endereço da página:

Links no texto: