Folha de S. Paulo


Haddad vai de busão (vazio)

Com cabelo ainda molhado, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passa pela guarita de seu prédio no Paraíso (zona sul) às 8h para mais um dia de trabalho na prefeitura. Tudo anormal: o petista vai de ônibus.

Flagrado pela Folha na saída do edifício, ele encontra o ajudante de ordens Renato, que o aguardava. É a segunda vez que o petista usa o coletivo para ir ao trabalho desde que assumiu o mandato, em janeiro deste ano.

A primeira foi anteontem, dias após ser questionado e dizer em sabatina na rádio CBN que até gostaria de usar ônibus para ir de casa ao trabalho, mas que não fazia isso por questão de segurança.

Apesar do dia chuvoso, o prefeito caminha sem guarda-chuva. O ajudante fica ao seu lado o tempo todo.

A parada mais próxima fica a 250 metros de seu apartamento, mas ele anda 500 metros a mais e vai até um ponto na av. 23 de Maio.

Para o trajeto até a sede da prefeitura, o telefone municipal 156 recomenda a linha 5106-10 (Jardim Selma-Largo São Francisco), que passa num ponto mais perto do apartamento dele. Se fosse por ela, no entanto, Haddad gastaria 40 minutos até o destino final --dez a mais do que levou ontem com a linha 5632-10 e mais do que os "apenas cinco minutos" que ele dizia estimar na sabatina.

O metrô é outra opção também perto --levaria 30 minutos, segundo a companhia--, mas Haddad quer testar a faixa exclusiva de ônibus no corredor norte-sul, inaugurada há quase dois meses. "É bom [andar] porque já faço meu exercício diário", brinca ele.

A pedido do petista, assessores estudaram mais de cinco linhas que pudessem levar o prefeito de sua casa até o trabalho. A ideia é que o percurso, descontando a caminhada, durasse 15 minutos.

Na rua Estela, Haddad aponta para o tradicional Colégio Bandeirantes. "Estudei ali." No ponto, o petista reconhece um passageiro. Anteontem o encontrara no mesmo local. "Esse é meu companheiro de ponto", diz. Uma mulher pede e ganha uma foto.

Editoria de arte/Folhapress
Haddad vai de busão
Haddad vai de busão

O prefeito dá sorte e aguarda o ônibus por três minutos --nove a menos que o tempo médio de espera de sua linha.

"Chefe, está vindo", avisa o assessor Renato, que faz sinal para o veículo parar. Haddad entra no ônibus já com o Bilhete Único e cumprimenta o motorista Ismail Novaes. Passa pela catraca e, ao notar que o repórter da Folha que o seguia estava sem dinheiro, se oferece para pagar a tarifa com seu bilhete. "É para colocar isso na matéria."

O prefeito então puxa assunto com o cobrador Sergio Silva de Oliveira, 28. "Está vazio hoje, não?", estranhou o petista. Era horário de pico e o normal é que os ônibus da cidade estejam superlotados.

A linha de Haddad carrega, em média, 116 passageiros por viagem da Vila São José, na zona sul, até o Largo São Francisco, no centro.

O veículo está tão vazio que o prefeito se senta no banco reservado a idosos e gestantes, bem ao lado do cobrador. "É que a maioria já desceu", explica Sergio.

Algumas pessoas se surpreendem com o inusitado passageiro. Com todos, o assunto é a faixa de ônibus.

O percurso dura dez minutos. "Chefe, a gente desce é no próximo", diz o assessor. "Não, gosto de descer no outro", responde Haddad.

No ponto final, no largo São Francisco, o petista sai por último. Em seguida caminha até o prédio da prefeitura, no vale do Anhangabaú.

Duas horas depois, em um evento, a reportagem tenta devolver os R$ 3 da tarifa. Haddad corre e vai embora.


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