Folha de S. Paulo


Não dá para fazer parque no Minhocão, afirma urbanista de NY

A pergunta mais comum de paulistanos e cariocas que visitam o High Line, o parque suspenso erguido sobre uma linha de trem abandonada em Manhattan, é: por que não fazer o mesmo no Minhocão (São Paulo) ou no elevado da Perimetral (Rio)?

Pois a urbanista responsável pelo projeto paisagístico do parque, Lisa Switkin, afirma: os dois locais não comportariam um High Line. A convite da Folha, ela visitou os dois lugares.

A razão, segundo ela, está na característica das construções. O High Line era um viaduto sem uso ao abrir ao público, em 2009, com seus deques e gramados.

Já o Minhocão e a Perimetral, diz, foram idealizados para os carros e têm função importante no sistema viário das duas cidades.

"O espaço para pedestres é justamente uma das coisas que faz o High Line tão especial", disse Lisa, que veio ao Rio e a São Paulo para participar do Arq.Futuro, evento de arquitetura e urbanismo que termina hoje no auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Na Perimetral, que tem 5,5 km e liga o aterro do Flamengo às avenidas Presidente Vargas e Brasil, "provavelmente as calçadas ficariam muito estreitas [caso o espaço fosse dividido entre carros e pedestres]", diz.

Por sua vez, no Minhocão, com seus 3,4 km de via elevada no centro da cidade, não é possível simplesmente tirar os carros para colocar um parque em uma via essencial.

"O High Line era uma linha de trem abandonada. Aqui tem carros. É difícil."

Se não dá para tirar os carros, o que seria possível fazer para tornar mais belo e acessível à população um dos monumentos mais controversos de São Paulo?

Criar uma via para bicicletas ou fazer uma "praia" aos finais de semana, sugere ela, que tirou seu iPhone do bolso para tirar fotos do Minhocão, ontem à tarde, quando quase não havia trânsito.

Da sacada de um apartamento no nono andar, Lisa se disse "impressionada" com as dimensões da obra --que liga as regiões leste e oeste da capital paulista e foi inaugurada em 1971, com o nome de elevado Costa e Silva.

Eduardo Knapp/Folhapress
Arquiteta americana Lisa Switkin observa o Minhocão, elevado localizado na região central de São Paulo
Arquiteta americana Lisa Switkin observa o Minhocão, elevado localizado na região central de São Paulo

DEMOLIÇÃO

Como costuma ocorrer com o Minhocão de tempos em tempos, o High Line, nos anos 1980, também ficou ameaçado de demolição, quando os trens pararam de circular.

Foi quando um grupo de vizinhos se reuniu e começou a lutar pela preservação do local, em ação que resultou na transformação em parque.

Já a Perimetral do Rio tem seus dias contados: os planos indicam que a via elevada irá totalmente ao chão no ano olímpico de 2016.

"Muitos dos prédios estão com a parte de trás voltada para o viaduto. Depois que ele cair, isso começará a mudar. A relação [da região] com a cidade será outra", diz Lisa. A mensagem com a demolição, diz, será a da "reabertura da cidade para o mar".


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