Folha de S. Paulo


Por proteção, testemunhas do caso Amarildo deixam Rio

Duas testemunhas do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, deixaram o Rio na madrugada deste sábado.

A operação para a retirada foi articulada entre a Secretaria de Direitos Humanos, do governo federal, e a Polícia Federal. As testemunhas - uma mulher e seu filho de 16 anos - deixaram a cidade em um avião acompanhados por policiais federais e chegaram ao destino, mantido em sigilo, ainda na madrugada do sábado.

O ajudante de pedreiro está desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi conduzido por policiais militares à UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, zona sul da cidade. Depois disso, nunca mais foi visto.

As testemunhas já ingressaram com pedido para integrar o Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte, do governo federal, e aguardam resposta. Para serem acolhidos, os dois precisam cumprir uma série de requisitos que ainda estão sob análise. Conforme a Secretaria de Direitos Humanos, o procedimento pode levar de três dias a uma semana. Por estarem sob risco, porém, as testemunhas foram retiradas do Rio preventivamente.

DEPOIMENTO REFEITO

A mulher se tornou peça chave no caso após ser ouvida pela Divisão de Homicídios do Rio no dia 11. Na ocasião, alterou depoimento anterior em que dizia que traficantes teriam matado Amarildo.

No novo depoimento à Divisão de Homicídios, a mulher declarou ter sido coagida pelo major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, a dizer que Amarildo teria sido morto por traficantes. Em entrevista à Folha, o major afirmou considerar estranho o novo depoimento da mulher e negou as acusações.

No primeiro depoimento, ocorrido em julho, a mulher afirmara ter sido expulsa da Rocinha pelo traficante Thiago da Silva Méris, conhecido como "Catatau". O traficante teria dito que caso a mulher não saísse da favela, ele faria com o filho dela de 16 anos "o mesmo que fez com o Amarildo". O filho dela estava internado na época após ter sido baleado durante uma blitz em maio.

Já na segunda vez que foi ouvida, a mulher declarou ter feito o primeiro depoimento a pedido do major. Em troca, o militar teria oferecido a ela pagar o aluguel de um apartamento fora da comunidade da Rocinha.

Em um depoimento no dia anterior na 15ª DP (Gávea), a mulher denunciou que o seu filho mais velho, de 22 anos, havia desaparecido depois de ter sido cooptado por Catatau, no dia 5, "para transportar uma carga de entorpecentes da Rocinha para a comunidade do Caju", segundo o regristro de ocorrência.


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