Folha de S. Paulo


Cidade tem onda de invasões de sem-teto na gestão Haddad

A área onde há uma creche e salas de cursos culturais e profissionais para adolescentes está agora cercada de barracos de madeira e plástico. Abriga a ONG Anchieta Grajaú, fundada em 1998, mas há um mês e meio também é ocupada por grupos de sem-teto.

O espaço na zona sul é um dos mais de 90 terrenos ou prédios invadidos na cidade. E pelo menos metade dessas invasões foram neste ano --uma onda acentuada na gestão Fernando Haddad (PT), principalmente após a série de protestos por motivos variados a partir de junho.

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Ontem mesmo, um grupo de 200 sem-teto invadiu um edifício de nove andares em Campos Elíseos, no centro.

As ocupações devem aumentar nas próximas semanas, diz Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Haddad disse à Folha que a administração detectou que alguns grupos estão monitorando os decretos de declaração de interesse social no "Diário Oficial" para, em seguida, ocupar os terrenos.

Essas declarações atestam que a área pode ser usada para a construção de habitações para pessoas de baixa renda.

"São pessoas que ficam de posse do Diário Oficial observando onde a prefeitura vai desapropriar, se antecipando", disse. Para ele, isso põe em risco os programas habitacionais porque "são expedientes para furar a fila" de quem aguarda moradia.

Haddad afirma que, diante da iminência de desapropriação, os donos perdem "interesse na segurança da área". E que isso favorece a "visão do oportunista" que pretende ocupá-la.

Grupos de sem-teto foram os primeiros a fazer protestos neste ano na prefeitura. Um dia após a posse do petista, pediram audiência com Haddad. No mesmo mês, um prédio em área cedida ao Instituto Lula foi ocupado.

Das 31 subprefeituras, só 8 não têm focos de invasão. Na região do Grajaú há 26 áreas invadidas neste ano.

Das invasões na cidade, 44 são em prédios. Os demais são terrenos --a maioria em zonas de proteção ambiental.

Segundo a ONG Anchieta Grajaú, 80% da área onde eles atuam estão sendo desmatados. Os sem-teto querem erguer 1.800 moradias por lá.

Parte das invasões pela cidade é articulada por grupos organizados que inclusive contam com apoio de integrantes de PT e PSOL.

Mas, diz Guilherme Boulos, a inflação do aluguel em bairros de periferia motivou ocupações espontâneas.

Em meio à pressão de movimentos de moradia, Haddad acelera as ações para agilizar habitações populares. Até agosto, publicou 63 decretos de interesse social.

A prefeitura diz que há 133 áreas em processo de desapropriação, com estimativa de criar 53.949 unidades.

Editoria de Arte/Folhapress
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