Folha de S. Paulo


Antes de matar os pais, filho de PMs disse que não gostava de histórias com finais tristes

Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, suspeito de matar os pais, a avó e a tia-avó e depois cometer suicídio, escreveu, em 2011, quando estudava na 6ª série, no colégio Stella Rodrigues, que não gosta de escrever histórias de aventuras com finais tristes. A informação está em um caderno escolar do garoto obtido pela Folha.

No mesmo texto, encontrado na matéria "técnicas de redação", o menino relata ter dificuldades com ortografia e não gosta de escrever textos muito longos. "Eu gosto de escrever histórias de aventuras, onde eu sou o herói", diz o trecho.

Em um texto escrito no caderno, o garoto relata um assalto com reféns em 10 de setembro de 2011, na Vila Brasilândia, mesmo bairro da zona norte onde ele, os pais, a avó e a tia-avó foram encontrados mortos. Na história, os bandidos fazem duas mulheres e uma criança reféns.

Todas as vítimas são libertadas após negociação com policiais da Rota, a tropa de elite da PM, na qual o pai dele, Luís Marcelo Pesseghini, 40 anos, atuava como sargento. O menino ainda apontou o quartel da Rota como um patrimônio importante da cidade de São Paulo a ser preservado.

Na manhã de ontem, familiares de ouviram o conteúdo dos nove laudos da perícia sobre o caso. A apresentação dos documentos sobre o crime foi feita por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investigam o caso. Entretanto, a família ainda não acredita que o menino tenha cometido o crime.

O CASO

De acordo com a principal linha de investigações, Marcelo matou a família, dirigiu com o carro dos pais até a escola, frequentou as aulas de manhã e retornou para casa de carona. Na sequência, ele se matou.

A Polícia Militar disse que investiga também a acusação de que Andreia teria sido convidada a participar de roubos a caixas eletrônicos. A informação foi dada pelo deputado estadual Olímpio Gomes (PDT), major da reserva da PM. Ele denunciou o caso à Corregedoria da corporação.

Luis Marcelo Pesseghini, 40, pai do menino, era sargento da Rota. A mulher dele, Andreia, 36, era cabo do 18º Batalhão. As outras vítimas moravam na casa nos fundos: a mãe e uma tia de Andreia, de 65 e 55 anos.

A casa onde a família foi morta não teve a cena de crime totalmente preservada. A informação consta de nota divulgada na terça-feira (13) pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

"O departamento [Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, DHPP] apenas confirmou afirmação da imprensa de que o local 'não estava totalmente idôneo'. Isso, evidentemente, não quer dizer que houve violação proposital da cena do crime", diz o texto.

Sebastião de Oliveira Costa, 54, parente das vítimas, disse que chegou à casa às 17h45 do dia 5 e que havia ao menos 30 PMs dentro dela, antes da chegada da perícia.

Peritos constataram nessa semana que os disparos poderiam ser ouvidos a 50 metros da casa da família. Nenhum vizinho, no entanto, disse ter ouvido os disparos.


Endereço da página:

Links no texto: