Folha de S. Paulo


Padilha diz que não está trazendo modelo econômico-social de Cuba

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) fez, nesta quarta-feira (4), o discurso mais político em defesa do Mais Médicos desde o lançamento do programa, em 8 de julho.

No plenário da Câmara dos Deputados, Padilha defendeu a vinda dos médicos cubanos, disse que não pretende trazer com eles o modelo econômico e social da ilha, e lembrou que partidos da oposição tentaram medida semelhante no passado.

Falta consistência ao Mais Médicos, diz brasileiro da OMS

"Em 1999, os médicos cubanos foram vistos por muitos como um milagre para fazer funcionar os hospitais", afirmou o ministro, enquanto projetava no telão uma matéria de 1999 feita pela revista "Veja" sobre o assunto.

Citando o líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), presente no plenário, Padilha disse que o então PFL (hoje DEM) tentou trazer médicos cubanos para Tocantins, no passado.

"O que estamos trazendo para o Brasil não é o regime cubano, não é seu modelo econômico, não é seu modelo de democracia ou seu modelo de participação da sociedade. O que o Ministério da Saúde está fazendo, e outros 58 países fazem hoje, é trazer a experiência na atenção básica da saúde de Cuba", afirmou o ministro, tido como pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.

Padilha também defendeu que Cuba fique com parte da verba desembolsada pelo Brasil pelos médicos cubanos. "Ninguém pergunta quanto que o Ministério da Saúde de Cuba recebe para levar milhares de médicos para atuar no Haiti. Custeia integralmente. Ou seja, a parceria da Opas com Cuba também é uma parceria que reconhece que uma parte dos recursos para Cuba é para formar médicos para outros países."

Apesar dessas falas, Padilha defendeu que o Mais Médicos é um programa "que não pode ter partido". "Nesse momento, temos que pensar acima de tudo na população", argumentou o ministro, que chegou ao plenário abraçando e cumprimentando os deputados.

O Mais Médicos foi criado via medida provisória, que está em vigor mas precisa de aprovação do Congresso Nacional.

OPOSIÇÃO

O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado, classificou o programa de um "projeto político-eleitoral" que vai render votos a integrantes do PT.

"É bom o governo ficar atento, porque os deputados do PT já estão brigando para solicitar médicos para municípios, porque, segundo levantamento desses, cada médico vai dar mil votos", afirmou Caiado.

Caiado ironizou o argumento do governo do PT de que a saúde é prioridade. "O governo Dilma [Rousseff] disse que ia priorizar a saúde e construir 8.694 unidades básicas de saúde. Construiu 1.209 unidades. Ou seja, nada mais do que 22%. E o governo está acabando."

O ministro da Saúde retrucou que a fala de Caiado "mostrou claramente que quem está mais preocupado com eleição não é o governo".

O DEM convidou para o debate na Câmara um médico de Cuba, que conseguiu deixar seu país natal e se naturalizou brasileiro. Carlos Rafael Jorge Jimenez atua há três anos na atenção básica do Ceará.

Jimenez defendeu a vinda dos médicos cubanos, mas rejeitou o modelo usado pelo governo brasileiro. "O Mais Médicos é um programa muito bom, mas se converteu em um programa político", criticou o médico.

Padilha afirmou que eventuais pedidos de asilo político de médicos estrangeiros que vierem ao país não podem ser motivação para "impedir que o Brasil use mecanismos que outros 58 países usam hoje" --uma referência ao número de países que fazem cooperações com o governo cubano.


Endereço da página:

Links no texto: