Folha de S. Paulo


Médicos de países vetados entram em programa com diploma de Cuba

O programa Mais Médicos está atraindo não só médicos cubanos, mas profissionais estrangeiros formados em Cuba, inclusive os que nasceram em países com índice de médicos/população menor do que o do Brasil.

A embaixada do Brasil em Havana se tornou um ponto de passagem para médicos que tiveram dificuldades para se inscrever em seu países, como Costa Rica ou Bolívia, porque esses locais estão vetados no programa federal.

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Em sua convocatória, o Mais Médicos veda a participação de profissionais que atuam em países com índice de médico por mil habitante inferior ao do Brasil (1,8).

Com o veto, o governo busca evitar que países carentes de mão de obra nessa área percam profissionais.

No fim de semana, liminar da Justiça aboliu a proibição para os estrangeiros de países vetados que já moram no Brasil, com o argumento de que eles não reduziriam o contingente de médicos por já haverem imigrado.

Flavia Marreiro/Folhapress
A médica costa-riquenha Reyli María Cubillo Obregón, 26, em Cuba, onde se formou; ela diz que vai trabalhar no Brasil
A médica costa-riquenha Reyli María Cubillo Obregón, 26, em Cuba, onde se formou; ela diz que vai trabalhar no Brasil

DA COSTA RICA À BAHIA

A médica Reyli María Cubillo Obregón, da Costa Rica, foi uma das que viajou até Havana para completar sua inscrição no Mais Médicos.

Ela se formou em Cuba em 2012 e foi aceita no programa do governo brasileiro, mas não conseguiu fazer todos os trâmites na embaixada do Brasil em San José, capital costa-riquenha.

"Vou para Livramento de Nossa Senhora, a terra do meu namorado", contou a médica de 26 anos à Folha, em português quase perfeito, comemorando ter sido aceita para cidade baiana que escolheu na inscrição.

Sem registro profissional na Costa Rica, onde teria de fazer a versão local do Revalida, ela vê no programa uma boa chance. A médica quer fazer o Revalida brasileiro.

Também à espera de documentos em Havana, a médica boliviana María Eugenia Rodríguez, 26, conta história parecida. A Bolívia é vetada no Mais Médicos por ter taxa de médicos menor que a brasileira, mas ela foi aceita para trabalhar em Manaus porque se formou em Cuba e não estava exercendo a profissão em seu país.

O programa brasileiro também é opção atrativa para médicos de El Salvador que se formaram em julho último pela Elam (Escola Latino-Americana de Medicina), em Cuba.

Os salvadorenhos Clara Castro, 25, Tomás Isaac Flores, 26, Brenda Guevara, 24, e Victor Torres foram à embaixada do Brasil em Havana na semana passada legalizar os documentos necessários para o Mais Médicos. "Em El Salvador há muitos médicos desempregados", diz Clara.

ESTRANGEIROS EM CUBA

Segundo o jornal oficial cubano "Granma", dos 10.526 médicos formados em Cuba em julho, 4.843 são estrangeiros --a maioria deles selecionados por entidades e governos aliados de Cuba.

Os bolivianos são a maioria dos formados (855), muitos com o compromisso de voltar para a Bolívia, seguidos dos equatorianos (718), mexicanos (444), argentinos (387) e salvadorenhos (386).


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