Folha de S. Paulo


PM usa minicâmera contra black blocs em protestos de SP

Capuz no rosto e cercado de câmeras de celulares ligadas, o anarcopunk se dirige a homens fardados: "Fascista", grita aos policiais militares alinhados diante do prédio da Assembleia Legislativa.

Com spray de pimenta e pistola.40 no cinturão e sem dizer uma palavra, um policial olha friamente para o rapaz. E filma também.

O policial agora tem uma nova "arma": uma minicâmera acoplada ao peito para registrar os manifestantes nos protestos que ocorrem toda semana em São Paulo desde o início de junho.

Trata-se de uma nova estratégia da PM, mas não só para tentar identificar os black blocs -grupo que protesta depredando prédios públicos e privados.

ESTRATÉGIA

No foco de uma profusão de filmadoras nas mãos de manifestantes e da Mídia Ninja, policiais passaram a usar os equipamentos para garantir suas próprias imagens de eventuais confrontos e se defender de acusações de abuso dos manifestantes.

Isso porque dezenas de vídeos de ações violentas de policiais durante manifestações em junho passado foram colocados no YouTube.

Desde 2009, a PM registra, em vídeo, eventos oficiais, manifestações e rebeliões, captando inclusive imagens que são transmitidas do helicóptero Águia para o comando da corporação.

Mas só agora agora PMs que atuam nos confrontos decidiram usar a tecnologia das filmadoras portáteis.

Marlene Bergamo/Folhapress
Giampaolo Gianquinto, tenente da Polícia Militar responsável por filmar manifestações em São Paulo
Giampaolo Gianquinto, tenente da Polícia Militar responsável por filmar manifestações em São Paulo

QUANTO MAIS, MELHOR

"Quanto mais imagens registrarmos, melhor", disse o tenente Giampaolo Gianquinto, figura frequente nos protestos da região central. Ele é um dos responsáveis por negociar os trajetos das manifestações com as lideranças de movimentos.

"Uso para me proteger também. Se alguém me acusar de abuso, tenho como provar o contrário", disse um policial que atuava na frente da Assembleia em agosto e não quis se identificar.

Os vídeos, porém, também podem ser editados, já que os PMs não mantêm a câmera ligada todo o tempo.

Segundo a corporação, além de fazer "estudo de caso", as filmagens servem também para se "contrapor" com imagens feitas por outras pessoas no protesto.

"Estas [filmagens de manifestantes], editadas, não retratam os fatos na sua totalidade", diz a PM.

A ideia é "fazer prova" a favor do PM se ele for acusado injustamente. "Da mesma maneira que possibilita que o PM seja punido, no caso de cometer ato ilegal", diz a PM.

PM, SIM; P2, NÃO

Jaqueta de couro e cabelo raspado nas laterais no estilo militar, Roberto Caetano, 49, observa de perto o grupo prestes a queimar uma catraca e um boneco representando o governador Geraldo Alckmin (PSDB) durante os protestos de 14 de agosto.

"Esse cara é P2", disse um inquieto anarcopunk, suspeitando que se tratava de um PM infiltrado no protesto.

Caetano é policial militar, sim. Tenente do Corpo de Bombeiros, ele nega, porém estar ali para observar o ato para repassar informações à PM. "Estou aqui como cidadão e apoio as manifestações populares", disse à Folha.

Caetano afirma que já está aposentado e que não vê motivos para ser apontado como um infiltrado.

DIREITO

"Não é nada disso. É importante saber o que se passa no país. E também tenho direito de me manifestar", afirmou. O cartão de apresentação entregue por ele à reportagem não menciona a aposentadoria.

"Trabalhei 25 anos dentro de um caminhão de bombeiros, mas já parei", disse, após conversar com alguém via rádio. Mesmo não sendo o caso de Roberto Caetano, a Polícia Militar mantém policiais à paisana nas manifestações que ocorrem em São Paulo.


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