Folha de S. Paulo


Salvador tem 'apartheid' entre cubanos e demais médicos estrangeiros

A segregação entre os profissionais de Cuba e das demais nacionalidades no programa Mais Médicos, do governo federal, não se resume ao salário na capital baiana.

Em Salvador, além de só receberem uma parte da bolsa de R$ 10 mil (como acontece em todo o restante do Brasil), os cubanos são os únicos instalados em um alojamento militar.

Médicos de outras nacionalidade recém-chegados ao país se hospedaram em um hotel numa região nobre da cidade, com diárias pagas pelo governo, ou mesmo na casa de familiares.

"Aqui, foi feito uma exceção: eles poderiam ficar ou na casa de sua família ou numa hospedagem alternativa", afirmou o superintendente de recursos humanos da Secretaria de Saúde da Bahia, Washington Abreu.

Divulgação
Área do hotel onde estão os não-cubanos em Salvador e quartel onde estão os cubanos, durante solenidade do Exército este ano
Área do hotel onde estão os não-cubanos em Salvador e quartel onde estão os cubanos, durante solenidade do Exército este ano

No Recife e em Fortaleza, por exemplo, todos os médicos estrangeiros estão em acomodações cedidas pelo Exército. Já em Salvador somente os cubanos se encontram no 19º Batalhão de Caçadores, no bairro do Cabula, distante do centro.

Eles, em um total de 50, desembarcaram no domingo, ao passo que os outros 13 estrangeiros do programa chegaram na sexta e no sábado.

De acordo com o Ministério da Saúde, responsável pela moradia dos médicos, os não-cubanos seriam transferidos nesta terça-feira (27) ao alojamento militar. "Foi uma questão de organização do espaço", afirmou a pasta, por meio de sua assessoria de comunicação.

A partir daí, ficariam juntos por três semanas, durante as aulas do chamado curso de acolhimento. Quando forem às cidades onde vão trabalhar, os custos de hospedagem serão das prefeituras.

A reportagem não conseguiu informações sobre as condições das instalações no batalhão. Segundo a administração da unidade, trata-se de algo "sigiloso". A Folha também foi barrada na portaria do quartel.

FAMILIARES

Uma outra desvantagem para os cubanos envolverá o benefício de trazer parentes ao Brasil, exclusivo aos demais.

O valor varia de acordo com a região onde ele trabalhará: até R$ 30 mil na região Norte, até R$ 20 mil no Nordeste e até R$ 10 mil nas capitais.

Segundo o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, há uma diferença porque a contratação dos cubanos é através do governo de Cuba.
"Eles são funcionários do governo cubano, não são médicos desempregados. São funcionários do governo cubano cedidos pela cooperação multilateral", afirmou.

O médico cubano Juan Hernandez, 47, que faz o curso preparatório para o Mais Médicos em Fortaleza, afirmou não saber quando conseguirá trazer seus parentes para lhe visitar. "Temos que arrumar uma graninha para pagar a passagem", disse.

Colaborou AGUIRRE TALENTO, de Fortaleza


Endereço da página: